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Isaura Dias Bittencourt

Atualizado: 23 de ago. de 2023




Neta da africana Maria Conceição, Isaura da Conceição nasceu em 1878, em Porto Alegre. Foi batizada na Igreja Madre de Deus e recebeu somente o sobrenome devocional de sua mãe – Conceição. Com o casamento de seus pais no ano de 1892 (Thomaz da Silva Dias e Josepha Conceição), agregou o sobrenome paterno Da Silva Dias. Primogênita dessa união, teve mais seis irmãos, Ildefonso, Hilda, Thomaz, Clotilde, José e Octávio. Sua família era prosperou economicamente. Essa ascensão econômica dos membros da família Silva Dias deu-se provavelmente a partir dos bens repassados por Maria Conceição a seu filho Thomaz da Silva Dias, homem negro letrado e pequeno comerciante no arraial do Menino Deus, membro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e do Clube Republicano ligado ao Partido Republicano Riograndense (PRR).


Os filhos homens acessaram o ensino público e os cursos de engenharia e direito, o que já era raro para uma família negra naquela época. Para as mulheres da família Silva Dias, no entanto, não é possível precisar se receberam alguma instrução. Porém, como a educação era um dos principais objetivos para a comunidade negra de então, é possível que tenham frequentado aulas com professores particulares ou ainda no círculo familiar do marido.


Isaura casou-se no ano de 1895, aos 17 anos, com o viúvo Aurélio Viríssimo de Bittencourt, este com 46 anos, tendo seu nome alterado para Isaura Dias de Bittencourt. Presume-se que ela tenha sido apresentada ao futuro esposo pelo pai ou pelos irmãos, visto que conviviam nos mesmos meios culturais, sociais e religiosos. Depois do matrimônio, nos anos posteriores, o jornal A Federação – órgão de imprensa do PRR – veiculou o nome da senhora dona Isaura Dias de Bittencourt ligando-o a várias irmandades religiosas da cidade de Porto Alegre. As irmandades, principalmente a de Nossa Senhora do Rosário, foram espaços importantes no amparo de seus membros durante o período do escravismo e posteriormente a este. Além das alforrias e da assistência médica, constituíram-se como locais de construção das redes de sociabilidade e, também, de ascensão e visibilidade social.


Os espaços das irmandades eram frequentados por vários membros da sua família de origem, como Thomaz da Silva Dias e seu padrasto José Justino. Dentro de seus trajetos por estas associações religiosas, Isaura cumpriu diversas funções de destaque, como a de juíza por devoção a São Francisco Xavier, no ano de 1896. No jornal A Federação de 30 de janeiro de 1901, ela aparece nas festividades da Irmandade da Nossa Senhora do Rosário como aia, juntamente com sua mãe, Josepha Conceição. As aias tinham o compromisso de vestir a imagem do santo ou da santa antes do início das novenas, o que somente era dado a pessoas de destaque na sociedade. Em 1915, conforme o referido jornal, ela foi encarregada da novena, ocupando também posições importantes e de relevo dentro das irmandades brancas da cidade. Foi integrante da Irmandade de Nossa Senhora das Dores nos anos de 1916 e 1917 e zeladora nas festividades de Nossa Senhora da Conceição e de Nossa Senhora da Glória. Ainda em 1916, é também aia na Ordem Terceira da Igreja das Dores, irmandade majoritariamente composta pelos brancos da elite citadina.


Nas décadas de 1920, registros de sua atuação nas irmandades tornaram-se mais raros, mas seu nome surge novamente no jornal A Federação, na coluna vida social, destacado dos demais com felicitações de aniversário. Outros registros também são evidenciados, como a saída para a cidade de Garibaldi, provavelmente para tratar das frequentes tosses e, também, as contínuas enfermidades (1923) as quais Isaura fora acometida. Isso, até o agravamento do sei quadro de doenças no mês de janeiro de 1925, resultando em seu falecimento em dezembro do mesmo ano, diagnosticada por tuberculose pulmonar. Apesar de sua trajetória e vivência no catolicismo, conforme seu obituário, as cerimônias fúnebres foram realizadas por meio da doutrina espírita solicitada por seu irmão Ildefonso da Silva Dias. Posteriormente, em 1946, um conjunto importante de objetos pessoais seus – sete leques, por exemplo – foram doados ao acervo do Museu Júlio de Castilhos. Sua atuação como mulher negra frente às irmandades católicas negras, pardas e brancas da cidad, evidenciou o seu protagonismo, articulação e visibilidade dentro da sociedade porto-alegrense do pós-abolição.








Bibliografia:

FERRUGEM, Isabel Cristina. Relatório de Estágio Supervisionado II: Museu Julio de Castilhos, 2013.

Jornal A Federação.

Jornal O Exemplo.

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