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João Cândido

Atualizado: 28 de jul. de 2023


João Cândido (1880-1869), Encuzilhada do Sul, Porto Alegre, Rio de Janeiro. João Cândido Felisberto nasceu em Encruzilhada do Sul (antes distrito de Rio Pardo), na fazenda Coxilha Bonita, que ficava no vilarejo Dom Feliciano, no interior do Rio Grande do Sul, em 24 de junho de 1880, oito anos antes da abolição da escravatura. Mudou-se para Porto Alegre quando tinha dez anos de idade, permanecendo aos cuidados do almirante Alexandrino de Alencar (1848-1926). Neste período, em Porto Alegre, João Cândido, pela primeira vez, teve contato com um navio de guerra da Marinha Brasileira chamado Ondina, com o auxílio do Almirante. De acordo com a professora Maria Luci, o “futuro marinheiro chega ao cais na companhia do oficial, o que provoca grande curiosidade aos marujos que estavam a bordo; jamais um negro tivera regalia.” Em depoimento para a Anamnese do Hospital dos Alienados em abril de 1911, e para a Gazeta de Notícias, em 31 de dezembro de 1912, João Cândido afirma ter sido soldado do General Pinheiro Machado na Revolução Federalista de 1893, portanto, antes de entrar para a Escola de Aprendizes do Arsenal de Guerra de Porto Alegre.


Quatro anos mais tarde, João Cândido ingressaria como grumete na Marinha do Brasil, indicado por seu tutor. Fez parte da Escola de Aprendizes-Marinheiros em Porto Alegre, em 1894, e depois atuou na instituição como instrutor. Por lá, exerceu diversas funções, tais como de artilheiro, faroleiro, maquinista, gajeiro, sinaleiro e timoneiro, em diferentes embarcações.


A corporação costumava ser o destino certeiro de jovens excluídos da sociedade, negros em sua maioria. Muitas vezes, os moços chegavam à Marinha indicados pela polícia e este encaminhamento era visto como uma punição. A instituição era composta, na época, de 50% negros, 30% mulatos, 10% caboclos e 10% brancos. E se no alto da hierarquia estavam os oficiais de alta patente e, em geral, brancos, a maioria dos marinheiros era preenchida por homens pobres, normalmente filhos de escravizados, que recebiam os piores salários e eram humilhados com frequência. Como bem explica, entre outros, Álvaro Pereira do Nascimento, os castigos físicos haviam sido abolidos no Exército em 1874, mas na Marinha persistia a aplicação de chibatadas, instrumento símbolo do período em que vigorava o sistema escravocrata – sendo que a escravidão tinha sido extinta 22 anos antes.


Mas João Cândido faria carreira, como grumete, quando foi destacado para trabalhar no Rio de Janeiro, lotado na Divisão de Instrução do navio-escola Benjamin Constant para cumprir diferentes funções: artilharia, torpedo, levantamento, levantamento hidrográfico, evolução, bloqueio de portos, tiro ao alvo e reconhecimento de portos. João Cândido percorreu todo o litoral brasileiro, as principais bacias hidrográficas (Prata e Amazônica) e navegou por quatro continentes (África, Europa, América do Norte e América do Sul). Conheceu personagens e presenciou eventos históricos. Instruiu-se nas artes militares, recebeu elogios, promoções, rebaixamentos e punições, aprendizados múltiplos marcados pela presença das águas e a presença soberana do mar durante 15 anos.


No início do ano de 1900, participou da missão republicana quando o Brasil disputou diplomaticamente com a Bolívia o território do Acre. O marinheiro negro rumou para Belém do Pará e Manaus, quando contraiu tuberculose pulmonar, por volta de 1904, tendo que permanecer por 90 dias no Hospital da Marinha para tratar da doença, depois retornando ao Rio de Janeiro.


João Cândido foi enviado para Newcastle-on-Tyle, na Inglaterra, em julho de 1909, junto com outros marinheiros, para acompanhar o fim da construção, especializar-se no equipamento e compor a tripulação do navio de guerra brasileiro, o encouraçado Minas Geraes. Foi por lá que tomou contato com as ideias politizadas dos marujos ingleses. Não por coincidência, de volta, os brasileiros começaram a questionar a situação vivenciada pela corporação. A nova esquadra brasileira ficou pronta em 1910, com seus 34 canhões. Nos meses seguintes, vieram o encouraçado São Paulo (também de grande porte) e o cruzador-ligeiro Bahia.


Na Europa, João Cândido conviveu com marinheiros de todas as partes e conheceu um dos mais politizados e organizados proletários existentes. Também já era grande a indignação da tripulação da Armada Brasileira contra os castigos corporais que sofria constantemente, além do excesso de trabalho e da péssima remuneração. Os oficiais viam os marinheiros simplesmente como escravos. Depois, a própria revolução do nível técnico-científico desses marinheiros que, com novas belonaves, foram transformados em peritos foguistas, mecânicos, eletricistas etc., tiveram seu peso. Iniciaram-se, assim, as primeiras reuniões para se discutir uma possível mudança.


Na Inglaterra, João Cândido mandou pintar, à carvão, o perfil de Nilo Peçanha (1867-1924), chefe de governo, por quem nutria grande simpatia, há algum tempo. Quando o Minas Geraes chegou ao Rio, foi visitado pelo presidente e todo o ministério. O ministro da Marinha, Alexandrino de Alencar, mostrou o quadro ao presidente, que mandou marcar audiência com João Cândido, para comparecer no Palácio do Catete, ocasião em que o marinheiro negro entregou o quadro e, ao mesmo tempo, suplicou ao presidente, em nome de milhares de marinheiros a abolição da chibata na Armada.


Como vimos, embora tal tipo de punição fosse proibida desde a Constituição imperial de 1824, a Marinha só mudaria seus métodos por meio do Decreto n.º 3 de 16 de novembro de 1889, assinado pelo então presidente Marechal Deodoro da Fonseca, com a legislatura da nova República que acabou proibindo a prática. Mas a Lei foi reavivada com o castigo sendo permitido em “campanha correcional” e para casos de “má conduta”. Apesar do enorme poderio bélico e da modernização tecnológica do Brasil pelos mares, o código disciplinar de bordo tinha origem nos tempos coloniais, com o uso de chibata e de outras punições, como prisão solitária, diminuição de comida, degredo e ficar “a ferros” (acorrentado). Todavia, o castigo cruel continuava de fato a ser aplicado, a critério dos oficiais, assim atingindo um contingente de 90% de negros e mulatos – centenas de marujos continuavam a ter seus corpos retalhados pela chibata como no tempo da escravidão. Por ocasião das comemorações do centenário da independência do Chile, os navios Bahia, Tamoio e Timbira foram mandados representar o Brasil, mas foram tantos os castigos aplicados aos marinheiros durante a viagem que aquele conjunto de belonaves ganhou o apelido de Divisão da Morte.


A Revolta da Chibata, sob a liderança do marinheiro negro João Cândido Felisberto, foi um ato de insatisfação ocorrido no início da República devido ao uso da chibata como castigo na armada brasileira, que reivindicava o fim da prática de torturas que remontava aos tempos da escravidão, e dos maus-tratos infligidos aos subalternos pela oficialidade nos navios da Marinha de Guerra Brasileira. Um grande movimento começou em 1910 e contou com a liderança de João Cândido, marinheiro de 1ª classe, da 16ª Companhia da Marinha nacional, logo apelidado de Almirante Negro. Na noite de 21 de novembro de 1910, o marinheiro negro Marcelino Rodrigues de Meneses, no convés do Minas Geraes, nau capitânia da nova esquadra, foi condenado a 250 chibatadas na frente de toda a tripulação – castigo que continuou, apesar do desfalecimento da vítima. Seis dias depois, a Revolta explodiu. A insurreição se desencadeou a bordo do Minas Geraes, mas, em seguida, atingiu outros navios, que tiveram seus comandantes destituídos.


Este fato antecipou a data programada para a insurreição de 25 para 22 de novembro de 1910, justamente na noite que o comandante do navio Minas Geraes, o Capitão João Batista das Neves, dormiria fora do navio, porém retornou mais cedo. Então os marujos tomariam a posse das armas, dominariam os oficiais em seus camarotes, tendo o controle do navio-mãe. Depois, os marinheiros indignados tomaram dois encouraçados e os apontaram da baía da Guanabara para a cidade. Já eram, a essa altura, cerca de 2.300 marinheiros amotinados, entre os dias 22 e 27 de novembro de 1910, e que tinham sob seu comando os principais navios de guerra da esquadra: Minas Geraes, São Paulo, Bahia, Timbira e Deodoro, todos apontando os canhões sobre a então capital do Brasil, exigindo o fim dos castigos corporais vigentes na Marinha. O movimento que ficaria conhecido por Revolta da Chibata, trouxe para a cena pública setores oprimidos da população, como agentes históricos transformadores. Além de exigirem o fim da chibata, os rebeldes pediam também, anistia. O governo do marechal Hermes da Fonseca (empossado há uma semana como oitavo Presidente da República no Brasil) e o Congresso Nacional, acuados, aceitaram rapidamente todas as condições.


No espaço de apenas cinco dias, o marujo gaúcho se transformou de ilustre desconhecido em uma grande celebridade no Brasil. Foi o começo de uma relação ambivalente que perseguiu João Cândido por toda a vida; ele atraía admiração, mas também, e nas mesmas doses, muito ódio.


Após quatro dias de tensão na capital federal, a Revolta terminou em 27 de novembro de 1910, com a anistia aos revoltosos concedida pelo governo. Anistiados, os marinheiros devolveram os navios e largaram as armas. No entanto, no dia seguinte, dia 27, o marechal Hermes da Fonseca (1855-1923) assinaria do Decreto que permitia a exclusão da Armada de todos os marinheiros que representassem risco, o que era quebra de palavra, uma traição do texto da Lei de Anistia aprovada no dia 25 pelo Senado da República e sancionada pelo presidente da República. Doze dias depois, ocorre outra rebelião, dessa vez envolvendo as guarnições do batalhão naval (na Ilha das Cobras) e do cruzador-ligeiro Rio Grande do Sul. Os combates foram rápidos, porém mais violentos do que na insurreição de novembro, pois o governo partia para esmagar os rebeldes, quando as perdas somaram 24 mortos e 134 feridos.


Os navios com os marujos da Revolta da Chibata, contudo, não tiveram qualquer participação nesse segundo episódio, mas o governo aproveitou do pretexto para fazer uma perseguição mais violenta. O saldo da repressão resultaria em 1.216 expulsões da Marinha, número equivalente a quase metade dos participantes da Revolta da Chibata; 600 pessoas presas, inclusive os líderes do movimento (que sofreram maus-tratos); degredo e trabalho escravo para centenas; e, ainda, um número não contabilizados de assassinatos.


Dezoito líderes foram para a solitária do batalhão Naval Ilha das Cobras no Rio. Apenas João Cândido e um companheiro saíram vivos de lá. Em 18 de abril de 1911, como “doente mental”, ele foi transferido aos Hospício dos Alienados, onde permaneceu por dois meses e, em seguida, foi mais uma vez remetido ao presídio Ilha das Cobra, onde sobreviveu a uma tentativa de assassinato. Depois, foi internado no Hospital de Alienados, na praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Após 18 meses de detenção, ele e os demais colegas de prisão apresentaram-se ao Conselho de Guerra. Foram defendidos por advogados contratados pela Irmandade da Nossa Senhora do Rosário, que nada cobraram pelo serviço. No dia 1º de dezembro de 1912, foram absolvidos, mas excluídos para sempre da Marinha.


Ao deixar a cadeia, em 30 de dezembro de 1912, João Cândido, mesmo sentindo o gosto da liberdade, estava quebrado – sem dinheiro e enfraquecido. Ele, também teve uma notícia ruim (embora não surpreendente): acabava de ser excluído dos quadros da Marinha de Guerra do Brasil. Foi o último dia em que usou a farda. Passou a morar na casa do carpinteiro Freitas, no bucólico bairro de Laranjeiras, na zona sul carioca, ao mesmo tempo em que passou a trabalhar no serviço pesado do porto. Após, emprega-se no veleiro Antônico para conduzir a embarcação dos portos do sul do país ao Rio de Janeiro como comandante. Trabalhou em diversas atividades laborais na Marinha Mercante e em barcos particulares, porém os oficiais da Marinha pressionavam os patrões e João Cândido era sistematicamente demitido.


Logo depois, se casou com Marieta, na Igreja Nossa Senhora da Glória, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro (RJ), uma das filhas de Freitas. A relativa calma durou pouco mais de um ano, quando João Cândido foi demitido das atividades na Marinha Mercante. Começou, então, a ser boicotado e conseguiu emprego na descarga de peixes na praça Quinze. Em 1917, sua esposa faleceu e, três anos depois, ele conheceu Maria Dolores, de apenas 18 anos. Foi então que, em 1919, juntando o dinheiro que restava do líder da Revolta da Chibata, comprou o modesto caíque Três Marias para pescar perto dali, no mercado do cais Pharoux (Praça XV). Em condição de pobreza, mas perto dos elementos entre os quais ficavam mais à vontade (cais, navios, marinheiros, o mar) e no meio de sua gente, viveu por quatro décadas, sem salário fixo ou garantias sociais, como os demais pescadores pobres em todo Brasil. A relação entre o casal terminou de maneira trágica: em 1928, ela ateou fogo ao próprio corpo diante das duas filhas mais velhas do casal.


Em 1953, despede-se do navio Minas Geraes, vendido como sucata à Itália. Em seguida, volta à terra natal para receber homenagem, que foi cancelada pela Marinha Brasileira. Contudo, sempre atento à política, João acompanhou com entusiasmo o nascimento do grupo de esquerda Aliança Nacional Libertadora e, anos mais tarde, o surgimento da Ação Integralista Brasileira, seduzido por alguns oficiais integrantes da Marinha, assim como o líder Abdias do Nascimento e o bispo Dom Helder Câmara. Em 1964, foi derrotada a Rebelião dos Marinheiros, na qual Cândido tomou parte. Em 1968, casado com Ana, João Cândido concedeu entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, e declarou o seguinte: “E o caso era este. Nós que vinhamos da Europa, em contato com outras marinhas, não podíamos admitir que na Marinha do Brasil ainda o homem tirasse a camisa para ser chicoteado por outro homem.”


Nos anos finais de sua vida, o Almirante Negro recebeu pensão da prefeitura da sua cidade natal. Faleceu, pobre, altivo em relativo anonimato, em uma tarde chuvosa de 06 de dezembro de 1969, na cidade do Rio de Janeiro, com 89, vítima de um câncer do intestino. Morava em um casebre na baixada fluminense, em uma rua sem saneamento básico ou luz elétrica. Seu enterro, em plena ditadura militar, foi cercado de policiais à paisana. Além de filhos e netos, também compareceram alguns conselheiros da Associação Brasileira de Imprensa; o amigo pastor Luiz Manzon, que encomendou o corpo, o jornalista e amigo Edmar Morel que, emocionado, declarou à beira do túmulo: “Você dignificou a espécie humana. Adeus, João Cândido.” Entretanto, a revolta que liderou entrou para a história como um movimento pós-emancipação, e seu nome permanece motivando aqueles que, cansados dos tratos humilhantes e da falta de respeito, exclusão social e discriminação racial, lutam por um país com condições melhores e com mais direitos para a massa de trabalhadores.


Em 22 de novembro de 1984, quando a Revolta da Chibata completou 74 anos, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro concedeu o título de Cidadão Carioca póstumo ao marinheiro João Cândido, por iniciativa do vereador Jorge Ligeiro. Em 1991, ele recebeu o título póstumo de cidadão honorário de São João do Meriti, no Rio de Janeiro. Em 2002, a Senadora Marina Silva e o ex-deputado Marcos Afonso apresentam um projeto de anistia póstuma a João Cândido e seus companheiros da Revolta da Chibata. Com a mobilização do Movimento Social Negro, em 24 de julho de 2008 foi publicada a Lei Federal n.º 11.756/2008 no Diário Oficial da União, a qual concedeu a anistia póstuma a João Cândido Felisberto e aos demais participantes do movimento, embora tivesse ficado de fora promoções e indenizações.


Com a publicação do livro de Edmar Morel, A Revolta da Chibata, pela editora Irmãos Pongetti, em 1959, a trajetória histórica e heroica de João Cândido ganhou ampla visibilidade. Apesar de todas as adversidades e injustiças sofridas por João Cândido, ele não foi privado de ser consagrado como “Almirante Negro”, herói do povo brasileiro. Entre as homenagens que recebeu, o marujo gaúcho foi ao Rio Grande do Sul, em sua única viagem aérea, para uma sessão promovida pela Sociedade Floresta Aurora, clube social negro e sesquicentenário de Porto Alegre. A pedido do clube nego, o renomado escultor Vasco Prado (1914-1998) modelou em barro o busto original de João Cândido, em 1959. Ele foi fundido em bronze, 40 anos depois, quando em 22 de novembro de 2001, a obra foi assentada e inaugurada no Parque Marinha do Brasil, no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre. Em novembro de 2007, uma estátua-monumento de João Cândido de três metros de altura, já consagrado como “Almirante Negro”, foi inaugurada no pátio do Museu da República (Palácio do Catete), voltada para o mar. Ainda não existe um filme de longa-metragem, mas diversos curtas já circularam em salas de exibição sobre sua trajetória heroica: o documentário/ficção João Cândido, um Almirante Negro (1987); João Cândido e a Revolta das Chibatas (2004); o documentário Memórias da Chibata, dentre outros, além de diversas peças teatrais, vários livros e teses universitárias. Sua saga foi tema do famoso samba “O Mestre-sala dos Mares”, de João Bosco e Aldir Blanc, em 1975, sobretudo em sua versão original cantada por Elis Regina, que depois sofreu várias modificações impostas pela censura, durante o período da ditadura militar:


O Almirante Negro

(Letra original antes da censura)

João Bosco e Aldir Blanc


Há muito tempo nas águas da Guanabara

O dragão do mar reapareceu

Na figura de um bravo marinheiro

A quem a história não esqueceu

Conhecido como almirante negro

Tinha a dignidade de um mestre-sala

E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas

Foi saudado no porto

Pelas mocinhas francesas

Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas

Jorravam das costas dos negros

Entre cantos e chibatas

Inundando o coração

De toda a tripulação

Que a exemplo do marinheiro gritava: não!

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias!

Glória à farofa, à cachaça, às baleias!

Glórias a todas as lutas inglórias

Que através da nossa História

...não esqueceremos jamais...

Salve o almirante negro

Que tem por monumento

As pedras pisadas do cais

(Mas, salve...)

Salve o Almirante Negro

Que tem por monumento

As pedras pisadas dos cais!



O Mestre-Sala Dos Mares

(Letra censurada e divulgada)

João Bosco e Aldir Blanca


Há muito tempo nas águas da Guanabara

O dragão do mar reapareceu

Na figura de um bravo feiticeiro

A quem a história não esqueceu

Conhecido como navegante negro

Tinha a dignidade de um mestre-sala

E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas

Foi saudado no porto

Pelas mocinhas francesas

Rubras cascatas

Jorravam das costas dos santos

Entre cantos e chibatas

Inundando o coração

De todo o pessoal do porão

Que a exemplo do feiticeiro gritava, então:

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias!

Glória à farofa, à cachaça, às baleias!

Glórias a todas as lutas inglórias

Que através da nossa História

...não esqueceremos jamais...

Salve o navegante negro

Que tem por monumento

As pedras pisadas do cais

(Mas, salve...)

Salve o navegante negro

Que tem por monumento

As pedras pisadas do cais

Sobre João Cândido, o Almirante Negro, o escritor e crítico literário Antônio Cândido, no prefácio do livro João Cândido do Brasil – A Revolta da Chibata, Teatro Popular, Olho Vivo, declarou o seguinte: “Ninguém mais do que esse lutador negro mostrou aos brasileiros que todos os sacrifícios se justificam no combate pela dignidade básica do homem: o direito inalienável de ser respeitado.” Sendo assim, João Cândido Felisberto está eternizado como um herói brasileiro.



Referências


BARBOSA, Paulo Côrrea; SCHUMAHER, Schuma. Almanaque Histórico – João Cândido – a luta pelos direitos humanos. Brasília: Abravídeo, 2008.


GOMES, Flávio dos Santos; LAURIANO, Jaime; SCHWARCZ, Lilia Moritz. Enciclopédia NEGRA. 1. ed. São Paulo: Cia das Letras, 2021.


LOPES, Vera Neusa; SANGER, Dircenara dos Santos. João Cândido: personalidade da história brasileira. Identidade, Boletim do Grupo de Negros e Negras da EST/IECLB, São Leopoldo, v. 8, jul./dez. 2005.


MORAES, Paulo Ricardo Moraes. João Cândido. Porto Alegre: Edições Tchê, 1984.


MORAES, Paulo Ricardo Moraes. João Cândido – A Revolta da Chibata. 3. ed. atualizada. , Porto Alegre: Editora da Cidade, 2010.


PEREIRA, Lúcia Regina Brito. Africanidades Sul-Rio-Grandenses. 1. ed. João Pessoa: Editora Grafset, 2012. (Coleção A África Está em Nós - História e Cultura Afro-Brasileira).


PESTANA, Maurício. João Cândido – Herói Brasileiro. Centenário da Revolta da Chibata. Brasília: Secretaria de Políticas da Promoção da Igualdade Racial: Governo Federal, 2010.


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