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Foto do escritorPedro Vargas

Mãe Norinha de Oxalá Obiofã

Atualizado: 14 de out.



Nascida Leonor dos Santos Almeida em 1939(?), terceira geração de uma linhagem de religiosos representantes da nação Oió, adotou o nome de Norinha por influência de sua avó carnal, Mãe Nora de Iansã. Sua mãe natural, Zeferina de Oxum, foi uma das fundadoras da Federação das Religiões Afro-brasileiras - Afrobrás. A família habitava a região do Areal da Baronesa (Cidade Baixa, Menino Deus e Praia de Belas), um dos locais que teve o maior número de terreiros de religião de matriz afro-brasileira, sobretudo, como referia Mãe Norinha – em entrevista à pesquisadora Cíntia A. de Ávila:


posso citar alguns, não todos, porque eram muitos morando todos na mesma rua. Era Mãe Mércia de Iemanjá, Mãe Joaquina de Iansã, que era minha mãe de santo, vó Nora de Iansã, minha avó carnal, Mãe Zeferina de Oxum, minha mãe carnal. Eu me criei dentro de duas casas religiosas. A Mãe Joaquina morava na frente da casa de minha mãe.


Reconhecida por sua atuação religiosa e pelos conhecimentos profundos sobre os fundamentos litúrgicos da nação Oió, essenciais para o desenvolvimento espiritual de tantos filhos e filhas de santo que frequentaram sua casa, Mãe Norinha rompeu as barreiras seguras de atuação prestigiosa que a sua biografia assegurava no campo religioso para dar passos significativos em direção à atuação política em defesa das religiões afro-brasileiras. Em 2002, fundou a Congregação em Defesa das Religiões Afro-brasileiras (CEDRAB) durante os preparativos da 11ª Semana da Consciência Negra. Com este ato, trouxe para o interior do movimento negro a discussão da religião como constituinte do patrimônio cultural negro, pauta que até então era negligenciada pelas associações do movimento.


Mãe Norinha não compreendia a existência do movimento negro sem a presença da religião de matriz africana. “A religião é essencial para o negro. Claro que existem negros evangélicos, católicos, mas a principal religião no início foi a nossa”. A religiosa passou a frequentar reuniões do movimento e a trabalhar para a materialização de um grande sonho: o Projeto Bará do Mercado, que daria frutos como o registro da tradição Bará no Mercado como patrimônio imaterial de Porto Alegre (Lei n. 9.570/2004), referendado pela Câmara Municipal em 2020. Com isso, em 2013, pela influência do trabalho incansável da yalorixá a execução de uma obra de arte é assinada pelos artistas negros Pelópidas Thebano e Leandro Machado: uma escultura/mosaico consagrada a este orixá, localizada no centro ou encruzilhada do Mercado Público, como parte do roteiro do Museu de Percurso do Negro. A primeira reunião da religiosa com representantes do movimento negro para esse fim, no entanto, foi no início do século XXI, na Associação Satélite Prontidão.


No ano de 2004, o CEDRAB é institucionalizado. Torna-se a voz mais eloquente em um novo campo de atuação que Cíntia Ávila (2009) entende como sendo a interface entre a religião e a política na luta contra a intolerância religiosa sofrida pelas religiões afro-brasileiras por parte da sociedade gaúcha, sobretudo, por parte das igrejas pentecostais. São, naquele período, membros da direção do CEDRAB, além de Mãe Norinha, Baba Diba de Iemanjá, Mãe Teresa de Iansã, Mãe Maria de Oxum, Mãe Angélica de Oxum, Mãe Valdete do Bará e logo após, Pai Nilson de Oxum.


A luta de Mãe Norinha contra a discriminação sofrida pelas religiões de matriz afro-brasileiras e, em especial, a campanha empreendida contra a proibição ao abate ritual de animais, conquistou o apoio de intelectuais, políticos e do movimento negro. Levou a religiosa a ser ouvida na Câmara dos Deputados em Brasília e ser acolhida nos terreiros baianos. Sua visão e postura firme ao longo da vida contra a intolerância religiosa influiu decisivamente para a sua participação no projeto que constituiu o espaço inter religioso nas unidades do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) em Porto Alegre, iniciativa que possibilita assistência espiritual aos pacientes e profissionais do GHC conforme suas crenças e contribui para a cultura de respeito à diversidade religiosa. Mãe Norinha faleceu em 05 de maio de 2018.



Referências:


ÁVILA, Cintia Aguiar. Na interface entre religião e política: origem e práticas da congregação em defesa das religiões afro-brasileiras (CEDRAB/RS). Dissertação de Mestrado em Antropologia, Porto Alegre: UFRGS, 2009




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