top of page

Pelópidas Thebano

Atualizado: 25 de jul. de 2023


Artista plástico, desenhista e figurinista, Pelópidas Thebano Ondemar Parente nasceu em Porto Alegre, RS, em 23 de abril de 1934. É filho do militar Antônio Augusto Waldemar Parente e de Ondina Silva Parente, que era costureira no Exército Brasileiro. Desde cedo destacou-se com desenho artístico e, sobretudo, como artista plástico. Durante o período que estudou no Colégio Rosário, ganhou o primeiro lugar e um concurso de desenho e duas menções honrosas no concurso estadual patrocinado pela Liga de Defesa Nacional no período de 1946 a 1947. Durante sua infância, o artista colocava-se ao lado do pai, sentado no chão, quando pegava folhas de papel para rabiscar e desenhar, ao mesmo tempo em que o pai lhe ofertava lápis em diversas cores. Thebano era um grande admirador do artista plástico espanhol Joan Miró, em face a utilização da profusão de cores traduzidas em suas telas, e que Thebano elabora magnificamente em sua arte afrocentrada nas pinturas e nos arranjos cerâmicos multicoloridos.


Entre as décadas de 50 e 80 destacou-se como figurinista de blocos de carnaval da cidade de Porto Alegre. Deste modo, seu desenvolvimento artístico também teve início no carnaval. Ele foi figurinista de inúmeros blocos carnavalescos. Neste período da história do carnaval de Porto Alegre, havia diversos blocos no primeiro quartel do século XIX, tais como os Guaranis, os Xavantes, os Ases do Ritmo, Os Comandos, o X do Problema, o Aratimbó e outras agremiações. Desde então, passou a ser reconhecido como artista plástico. Thebano desfilou, também, por algumas agremiações carnavalescas, dentre elas a tribo carnavalesca Xavantes e a Escola de Samba Praiana.


Fez carreira no serviço público estadual, na Secretaria Estadual de Obras Públicas do Rio Grande do Sul, onde atuou entre as décadas de 1950 e 1990, como desenhista arquitetônico, paisagista e urbanista. Sobre este período profissional, ele comentou:


Era muito solicitado pelos arquitetos e, às vezes, fazia muitos serviços particulares, os chamados ‘cabritos’. Em Porto Alegre, aqui, desenhei muitas obras de edifícios, planos diretores, como tem o Centro Administrativo. Eu ajudei a desenhar o Jardim Botânico, O Mirante, lá do Caracol...e, aí, eu fui aprimorando o meu trabalho. Por isso, é que eu tenho essa facilidade de desenhar prédios, né.


O artista plástico Thebano contribuiu com o desenho para a primeira versão, junto à Metroplan, do meio de transporte Aeromóvel, idealização do engenheiro gaúcho Oskar Coester.


A partir de 1985, aprofundou seus estudos em pintura, o que o levou a participar mais intensamente de uma série de exposições e iniciativas ligadas às artes visuais. Depois de se desvincular como desenhista técnico da prefeitura de Porto Alegre, Pelópidas Thebano passou a se dedicar integralmente à pintura, assim ganhando projeção e reconhecimento como artista. Em visita de férias ao seu filho Paulo Roberto Marques Parente a Salvador (BA), também teve uma imersão no cenário cultural da Bahia, cuja experiência influenciou muito no desenvolvimento futuro de seu trabalho artístico.


Sua pintura, que se vale de diferentes técnicas e materiais, inclusive cola colorida, carrega ainda as marcas do desenho. Pelópidas compôs uma série que evoca a diáspora africana e aponta seus desdobramentos nas sociedades ocidentais. Seguindo uma sequência cronológica, o artista começa pela partida forçada dos negros africanos e a chamada travessia de Calunga Grande, registrando depois a escravatura nas lavouras e, adiante, a inserção dos negros nos parques industriais das grandes cidades. A partir disso, é possível propor uma discussão sobre a influência negra nas manifestações culturais, como danças, festejos, folguedos e artes.


Pelópidas Thebano trabalha com a ideia de resgatar, através do estudo histórico, os elementos que conformaram a atual situação do povo negro no Brasil. Desta forma, seus quadros são resultados de colagens de elementos diversos em que estão sempre presentes o “negro”, o “senhor”, a “natureza” e a “África”. O artista ressalta que o negro está longe de sua cultura original, que é preciso “reaprender” os aspectos essenciais. Com este objetivo, Thebano aponta a necessidade de se ter de “estudar” o passado e a importância da pesquisa. A questão latente para ele era descobrir ao longo dos processos históricos quando o negro foi sendo gradativamente obrigado a “incorporar” o modo de vida branco, o porquê deste último ser sempre relacionado com “dignidade” e “prestígio”, enquanto o negro é relacionado com “preguiça” e “atraso”. Nesse sentido, Thebano fez parte com seu amigo e compadre Américo de Souza (idealizador do Troféu Zumbi, Clube Social Negro Satélite Prontidão), que é escultor, pintor, idealizador e organizador do grupo formado por artistas plásticos negros e negras, tais como Pedro Homero, Tânia Maria Borba, Silvia Victória e Alceu da Silva e que fundaram a Frente Negra de Arte (FNA).


As tratativas para fundar a FNA ocorreram entre os anos de 1999 e 2000, mas foi em 8 de dezembro de 2001, no clube social negro Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora, de Porto Alegre, que reuniram-se mais de vinte artistas plásticos e artesão negros, por ocasião da realização do primeiro Fórum Social Mundial, e cujo objetivo era o de levar a “educação” e o “gosto” para as crianças negras, algo que a arte, devido ao seu potencial intelectual, pode servir de instrumento. A FNA inspirou-se na Frente Negra Brasileira, movimento negro da década de 1930. Contudo, do ponto de vista ideológico os artistas negros, alinharam-se às perspectivas e propósitos do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por Abdias do Nascimento.


O artista gaúcho participou da equipe do Museu do Percurso Negro em Porto Alegre, sendo autor e coautor de vários Marcos Visuais que integram o museu, tais como o “Tambor” (Praça Brigadeiro Sampaio); o “Bará do Mercado” (Mercado Público de Porto Alegre) e o “Painel Afrobrasileiro”, este último está instalado no Largo Glênio Peres. Também se destaca em sua trajetória a mostra individual Afrobrasilidades (2011), exibida na galeria do Instituto de Arquitetos do Brasil.


Thebano teve contribuição artística e técnica fundamental na concepção coletiva do marco escultural “Tambor”, localizado na Praça Brigadeiro Sampaio, antigo Largo da Forca (Centro Histórico de Porto Alegre), no início da Rua dos Andradas (Rua da Praia), junto com os artistas plásticos, escultores e griôts, como Gutê (Carlos Augusto da Silva), Leandro Machado, Maria Elaine Rodrigues, Marcos Mattos e Adriana Xaplin. O Tambor foi a primeira obra do Museu de Percurso de Porto Alegre, inaugurada em abril de 2010. Ele surge como um grande agregador das diferentes composições que se formaram durante a etapa de criação dele. As ilustrações nele contidas se referem às negras quitandeiras, aos lanceiros negros, povo de terreiro, aos estudantes negros, aos carnavalescos; aos escravizados marítimos, aos, capoeiristas, que vivenciaram o mundo social do trabalho nos períodos colonial e imperial gaúcho. Os desenhos elaborados por Pelópidas Thebano contribuíram para ressignificar afirmativamente e sinalizar o reconhecimento da presença afirmativa da comunidade negra em Porto Alegre, por meio das suas múltiplas singularidades sociais e culturais, agora afirmadas publicamente e com enorme visibilidade nos espaços sociais e urbanos no centro da metrópole.


O Marco Visual ao Bará do Mercado, localizado na área central do Mercado Público é a terceira obra de arte do Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre. A obra, idealizada pela Mãe Norinha de Oxalá, foi concebida pelos artistas visuais Pelópidas Thebano e Leandro Machado, e executada pelos artistas Leonardo Posenato, Vilmar Santos e Vinícius Vieira. Ela homenageia o Orixá Bará no centro do Mercado Público, assim fortalecendo as tradicionais manifestações culturais, étnicas e religiosas ali realizadas, marcando mais um lugar histórico da territorialidade negra na cidade de Porto Alegre. Com projeto apresentado à Petrobrás, foi inaugurado em fevereiro de 2013. Segundo Pelópidas Thebano, o assentamento do Bará

ganha força com uma simbologia visual amarrada às tradições africanas. As cores vermelho e amarelo ressurgem e envolvem as 7 chaves do painel de piso, em um desenho novamente curvo, como os outros marcos do museu. Agora, o Bará ganha visibilidade com luz, no ponto central do comércio de Porto Alegre, lugar de troca de saberes e da oralidade afrobrasileira viva.


A obra de arte foi executada após uma década de desdobramentos institucionais. Em 2013, o lugar do assentamento do Bará foi indicado como Bem Cultural Imaterial de Porto Alegre, aprovado pelo Conselho do Patrimônio Histórico Cultural (COMPAHC), passando a fazer parte do patrimônio cultural da cidade.


Pelópidas Thebano realizou inúmeros estudos para uma terceira contribuição artística, até idealizar e finalizar o Painel Afro-brasileiro. Posteriormente, foi realizado um extenso trabalho para que em sua execução a obra apresentasse a mesma intensidade de cores que o modelo original. O painel é formado por pequenos fragmentos de cerâmica com cores vibrantes de verde, amarelo, vermelho, preto, cinza e laranja, que formam um conjunto com pessoas pretas que sobressaem em meio a uma trama de recortes geométricos e linhas sinuosas, evocando a visualidade e a ocupação negra do espaço, evidenciando também sua história e resistência. O trabalho recebeu autorização para execução em 2011, mas os recursos para sua construção só foram alcançados em 2014, quando a IV Etapa do projeto do museu foi selecionada pelo edital do Prêmio Funarte de Arte Negra. No catálogo desenvolvido especialmente para o projeto, Vinícius Vieira relata alguns detalhes da confecção do mosaico e explica que antes da finalização da obra, com a moldura de aço inoxidável, foi aplicado um rejunte escuro que, além de unir os fragmentos cerâmicos coloridos, contribui para que as peças aparentam uma unidade, diluindo a composição heterogênea da obra.


A primeira etapa do Museu, concluída no ano de 2011, foi realizada por diversas entidades, sob a coordenação gestora do Grupo de Trabalho Angola Janga. Nessa etapa o Museu fazia parte do Programa Monumenta, do Ministério da Cultura (MinC), executado com recursos da União, de estados e de municípios, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e cooperação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e da UNESCO. Também se destaca em sua trajetória a mostra individual Afrobrasilidades (2011), exibida na galeria do Instituto de Arquitetos do Brasil. Em sua trajetória, Pelópidas Thebano conta com exposições na Câmara Municipal de Porto Alegre (2004), onde foi homenageado com o Prêmio Quilombo dos Palmares na Modalidade Atuação Artística e Cultural, Fórum Social Mundial (Porto Alegre, 2001 e 2002), em parceria com Américo de Souza, Pedro Homero, Tânia Maria Borba, Silvia Victória e Alceu da Silva. Santander Cultural, Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento Rio Grande do Sul (IAB-RS) (2011); troféu Carlos Santos da Câmara Municipal de Porto Alegre, em 2012; exposição coletiva Porto Negro Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo (2016), Memorial Carlos Alberto de Oliveira (2019) e recebeu o destacado prêmio de Artista Homenageado do XIV Prêmio Açorianos de Artes Plásticas Porto Alegre (2021). Possui trabalhos em coleções e museus do Brasil, entre os quais: o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), Porto Alegre/Brasil; Pinacoteca Ruben Berta, Porto Alegre/Brasil; Museu de Percurso do Negro, Porto Alegre/Brasil; e Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), Porto Alegre/Brasil.


O Painel Afro-brasileiro foi inaugurado no dia 20 de novembro de 2014, Dia Nacional da Consciência Negra, data idealizada pelo poeta, professor e pesquisador gaúcho Oliveira Silveira, e instalado no muro do Chalé da Praça XV de Novembro. Assim, está localizado em um dos principais pontos de circulação da cidade, caracterizado como um espaço de encontros democráticos, palco de diferentes manifestações políticas e culturais. As cores presentes no Painel conversam com o tom das pedras onde estão fixadas e, ao mesmo tempo, contrastam com a sobriedade dos edifícios históricos e as nuances cinzentas típicas dos centros urbanos. O mosaico parece replicar no equipamento urbano a técnica aplicada na obra. Assim como os fragmentos coloridos, o painel é uma pequena parte do conjunto de marcos que integram o acervo do Museu de Percurso de Percurso do Negro e que preenche alguns vazios da arte pública de Porto Alegre: a carência de obras muralistas e a escassa expressão artística negra na cidade.


Pelópidas Thebano faz parte desse novo momento. A estética e a composição do painel nos remetem a algo que é retomado e contradiz a visualidade a que fomos acostumados, trazendo esse novo ponto de vista sobre a cidade e seus habitantes. O trabalho de Thebano é um marco físico e simbólico para o Museu, mas, sobretudo, para a história da arte no RS, e para ele mesmo como artista, pois estabelece um vínculo formal com a cidade através da inserção de sua obra na paisagem de um importante espaço público, reiterando a existência da população e da classe artística negra em Porto Alegre, efetuando o devido registro da obra junto ao acervo do município.


O continente africano é tema recorrente em suas obras, o que revela a perpetuação da sua ligação com a ancestralidade, trazendo para a atualidade e para as futuras gerações o contato com a cultura de matriz africana, com suas riquezas, seus ensinamentos e reflexões sobre a história da África, identidade negra e a conscientização do valor e da riqueza cultural dos negros, contribuições que são perceptíveis em seus trabalhos em pintura. Thebano é considerado uma das principais referências da arte negra no Rio Grande do Sul. A última exposição virtual com suas obras “Raiz que se alastra”, de 03 de novembro a 20 de novembro, que contou com curadoria da artista plástica Mitti Mendonça, teve como objetivo abordar a produção artística e a trajetória de Pelópidas Thebano, artista plástico porto-alegrense, já consolidado nas artes plásticas brasileira e afro-brasileira. Em 2002, foi doada para as referidas instituições museológicas a pintura virtual “Raiz que se alastra”, criada em 2013.


O artista plástico Pelópidas Thebano (Pelópidas Thebano Ondemar Parente) faleceu em 04 de janeiro de 2022, em Porto Alegre, RS, Brasil.



Referências


RAMOS, Jeanice Dias; VARGAS, Pedro Rubens Nei; SOUZA, Vinícius Vieira. Museu De Percurso Do Negro Em Porto Alegre, Etapa IV – Painel Afro-brasileiro. Ed. Porto Alegre, RS, 2015.


SALAINI, Cristian Jobi. “O negro no campo artístico”: uma possibilidade analítica de espaços de solidariedade étnica em Porto Alegre/RS. In: SILVA, Gilberto Ferreira da; SANTOS, José Antônio dos; CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha (org.). RS Negro – cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre, RS: Edipucrs, 2008.


SOUZA, Vinícius Vieira de Souza. Artes Visuais de referência afro-brasileira no espaço público de Porto Alegre. In: MATTOS, Jane Rocha de. Museus e Africanidades. Porto Alegre, RS: Edições Museu Júlio de Castilhos, 2013.


THEBANO, Pelópidas Ondemar Parente. Entrevista, Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre. Depoimento oral. Porto Alegre, 2010.


THEBANO, Pelópidas. Exposição Raiz que se alastra. 2021. Curadoria e texto curatorial de Mitti Mendonça. [S. l.], 2021. Virtual.


34 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Realização:

Design sem nome (8).png

Apoio:

Design sem nome (7).png
rBYewJWAM8ZbQVghG1jzhCIlmw6wIp7lzQeRCyjh.jpeg
Design sem nome (29).png
Elefante Preto.png

Podcast:

Design sem nome (37).png

Financiamento:

bottom of page