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Rua dos Pretos Forros

Atualizado: 24 de jul. de 2023


A Rua dos Pretos Forros pode ser considerada uma das primeiras ruas do Areal da Baronesa. Limite sul deste antigo território negro, essa via compreendia parte da atual Av. Ipiranga, mais precisamente o trecho entre a Av. Praia de Belas (limite oeste da cidade à época) e a Rua 13 de Maio (atual Av. Getúlio Vargas). Já na década de 1870, quando a região do Areal ainda era uma zona de chácaras, tem-se registros de moradores negros na Rua dos Pretos Forros, embora seu traçado apareça pela primeira vez em um mapa apenas em 1881. Em documentação levantada pela pesquisadora Jane Mattos (2000, p. 47), Rafael, homem pardo, de ofício carpinteiro, cita no ano de 1874, a Rua dos Pretos Forros como seu local de moradia, demarcando a existência da via já nessa época. Imortalizada em poema de Athos Damasceno (1944), a Rua dos Pretos Forros aparece relacionada à liberdade e a manifestações religiosas e culturais negras, como o batuque e o quicumbe e seus instrumentos: xequerês e agogôs.

O fato de o termo “forro” designar aqueles que haviam conquistado a alforria (liberdade) dá indícios de seus moradores: pessoas negras libertas (ROSA, 2019, p. 92). No Mapa de 1888, a via já aparece nomeada como Rua 28 de Setembro, data da Lei do Ventre Livre. Instituída em 1871, a lei passou a declarar livre todo filho de mulher escravizada nascida a partir daquela data. Esse é um dos raros casos em que a mudança de nomenclatura não apaga o marcador negro; pois altera o nome, mas mantém o sentido de liberdade.


Nesse mesmo mapa documento, a Rua 28 de Setembro aparece repleta de construções, sendo a única via, das poucas da área, amplamente ocupada. Em 1892, a Estatística Predial registra a existência de 46 casas térreas, dois sobrados e assobradados (FRANCO, 2006, p. 425), confirmando a elevada densidade populacional apontada pelo Mapa de 1888.

Em 1888, simbolicamente ano da abolição da escravidão, o Areal da Baronesa, ainda sem ruas abertas, tem como seus limites nomenclaturas referentes a dois marcos da emancipação negra: ao sul, Rua 28 de Setembro e à leste, Rua 13 de Maio (data da abolição da escravidão). Por seu significado histórico, essas são consideradas toponímias (nome do lugar) da emancipação negra (VIEIRA, 2020). Nas décadas de 1930/1940 essas vias foram renomeadas para Av. Ipiranga e Av. Getúlio Vargas, perdendo seu sentido relacionado à população negra.

A data de 28 de setembro tornou-se amplamente comemorada pela população negra da cidade devido à tamanha importância da Lei do Ventre Livre para esse grupo. Entre o final do século XIX e o início do século XX, a Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora promove grandes festejos para celebrar a “gloriosa data”. Nessa virada de século, o 28 de setembro é destaque também nas páginas do jornal O Exemplo, periódico negro que tece saudações a esse marco histórico, assim como críticas.

Referências

FERREIRA, Athos Damasceno. Poemas da minha cidade. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1944.

FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006.

MATTOS, Jane Rocha de. Que arraial que nada, aquilo lá é um areal: o Areal da Baronesa: imaginário e história (1879-1921). 2000. 158 f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Programa de Pós-graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.


ROSA, Marcus Vinicius de Freitas. Além da invisibilidade: história social do racismo em Porto Alegre durante o pós-abolição. Porto Alegre: EST Edições, 2019.

VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre: toponímia da emancipação negra no Mapa de 1888. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), [S. l.], v. 12, n. 34, p. 182-208, nov. 2020. ISSN 2177-2770. Disponível em: https://abpnrevista.org.br/index.php/site/article/view/1136. Acesso em: 14 dez. 2022.


VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021. Disponível em: https://anpur.org.br/territorios-negros-em-porto-alegre-rs-1800-1970. Acesso em: 14 dez. 2022.


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