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55 itens encontrados para ""

  • Ilhota

    Figura 1: Mapa Ilhota, Porto Alegre/RS – 1916 Fonte: Elaboração de Daniele Machado Vieira sobre Mapa de Porto Alegre/RS 1916 (IHGRGS, 2005) Figura 2: Ponte sobre o Arroio Dilúvio com a Ilhota ao fundo Fonte: Acervo Fototeca Sioma Breitman – Museu Joaquim José Felizardo Circundada pelo Arroio Dilúvio, a Ilhota era uma pequena porção de terra existente na parte sul do bairro Cidade Baixa, mais especificamente, onde hoje estão o Ginásio Tesourinha, o Centro Municipal de Cultura e a atual Vila Lupicínio Rodrigues. Contígua ao Areal da Baronesa, a Ilhota tinha como limites, em sua configuração inicial, as antigas rua 13 de Maio (atual av. Getúlio Vargas) e rua Arlindo (atual av. Érico Veríssimo), a oeste e a leste; a Praça Garibaldi ao norte e a rua 17 de Junho (antiga Rua dos Coqueiros) ao sul (SANTOS, 2010, p. 36). A configuração da área da Ilhota, sua origem e desmantelamento, está relacionada ao Arroio Dilúvio, um dos principais cursos d'água da cidade. A origem da Ilhota remonta ao ano de 1905 (FRANCO, 2006, p. 208), quando duas pontas do meandro (grande curva) do mesmo (situado ao sul da Praça Garibaldi) se uniam, formando uma pequena ilha em seu interior, chamada de Ilhota. Ainda não canalizado, o Arroio Dilúvio cruzava a cidade no sentido leste-oeste, adentrando a Cidade Baixa, para então desaguar no Guaíba, passando através da Ponte de Pedra. Logo após a Ponte da Azenha, o Dilúvio formava essa grande volta e seu curso seguia paralelo à atual rua João Alfredo (rua da Margem, à época, por ser a margem do Riachinho) até chegar à ponte antiga do atual Largo dos Açorianos. Embora fechada em 1905, no Mapa de 1906 a Ilhota ainda aparece com o meandro aberto - somente uma década depois, no Mapa de 1916 é que a vila será apresentada com a configuração que a consagrou: uma ilha dentro da cidade. A rua Ilhota e a travessa Batista, futuras vias, já estavam traçadas. Para se ter uma ideia do crescimento do local e da quantidade de famílias residentes na área, no ano de 1946 foram catalogadas 77 construções, 62 prédios na rua Ilhota e 15 na travessa Batista, conforme levantado por Franco (2006, p. 208), a partir do Decreto Municipal n.º 333. Zona empobrecida, habitada por uma população majoritariamente negra, a Ilhota ficou imortalizada nas crônicas de carnaval e batuque, na memória e nos sambas saudosistas da cidade como zona boêmia, berço do samba, sendo lembrada especialmente por Lupicínio Rodrigues (1914-1974), seu ilustre morador. Nascido na Ilhota, com família residente na travessa Batista, Lupi, como era carinhosamente chamado, foi cantor e compositor, que com seus sambas conquistou projeção nacional. Muitos carnavais tiveram sua construção na área e entorno, como os blocos que saíam da Praça Garibaldi, contígua à Ilhota, e tinham como participantes ou organizadores foliões da mesma (GERMANO, 1999). Em suas lembranças dona Isaura, moradora na década de 1940, rememora o local: “a Ilhota que eu conheci era um corredor de casas, ou seja, uma casa do lado da outra. A mais bonita pertencia à família do Lupicínio Rodrigues” (SANTOS, 2010. pp. 36-37). Mestre Borel (2010), antigo e renomado alabê (tamboreiro) da cidade, importante figura das religiões de matriz africana, em suas lembranças, reconstrói mais um pouco da paisagem da área, lembrando dos pontilhões (pontes) de madeira (sobre o Arroio Dilúvio) que faziam a ligação da Ilhota com o entorno. Em sua fala ele também relembra os antigos batuqueiros da região, junto com o Areal da Baronesa, rua Cabo Rocha, estendendo-se para a região do bairro Santana. Assim como vários outros núcleos de família de baixa renda, a Ilhota era composta por gente simples, com ofícios relacionados ao trabalho doméstico e à prestação de serviços, como lavadeiras, cozinheiras etc. A solidariedade entre a vizinhança é uma marca ressaltada nas lembranças: A gente se ajudava mutuamente, principalmente as mulheres. Cuidávamos dos lavados enquanto uma ou outra lavadeira saía para fazer as entregas ou busca de roupas. Controlávamos as crianças para que não ficassem soltas na rua e por vezes cedíamos alimentos para aquelas famílias que se apertavam por falta de dinheiro, principalmente no final do mês (SANTOS, 2010, p. 45). Zona que sofria com as constantes cheias do Arroio Dilúvio, a Ilhota tem seu desaparecimento relacionado à canalização do Riachinho, nome dado ao Dilúvio na região da Cidade Baixa. Após a grande enchente de 1941, o Arroio Dilúvio começou a ser canalizado, tendo o trecho final de seu curso retificado para que passasse a correr retilíneo até a av. Praia de Belas, limite junto ao rio na cidade da época, antes do aterramento. A obra faz desaparecer os braços do Arroio que circundava a Ilhota, dando fim também às cheias e alagamentos. A Ilhota se expandiu até as proximidades da Rua Lima e Silva. Contígua ao Centro, a área passa a ser alvo do poder público e do mercado imobiliário, provocando uma brutal remoção da população residente no final dos anos 1960. Aqueles que não conseguiram residência em outro local foram removidos e, junto com moradores de outros espaços empobrecidos deram origem ao atual bairro Restinga - à vida na periferia longínqua. Localizada no extremo sul da cidade, distante cerca de 20 quilômetros, em 1968/1969, época da remoção, a área da Restinga não contava com a infraestrutura mínima, como água, luz, escola, para receber famílias e suas moradias, o que não impediu a remoção de diversas famílias para lá. Referências BOREL, Mestre (Walter Calixto Ferreira). Mestre Borel: a ancestralidade negra em Porto Alegre. Direção: Anelise Gutterres. Porto Alegre: Ocuspocus Imagens, 2010. 54 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ftjdoUEC4b0. Acesso em: 12 out. 2016. FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006. GERMANO, Iris Graciela. Rio Grande do Sul, Brasil e Etiópia: os negros e o carnaval de Porto Alegre nas décadas de 1930 e 40. 1999. 275 f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999. SANTOS, Irene (coord.) et al. Colonos e Quilombolas: memória fotográfica das colônias africanas de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2010. VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021. Disponível em: https://anpur.org.br/territorios-negros-em-porto-alegre-rs-1800-1970. Acesso em: 25 jan. 2023.

  • Igreja Nossa Senhora das Dores (Pelourinho)

    É o templo católico mais antigo atualmente em Porto Alegre, um elemento constitutivo da história e da paisagem urbana. Iniciou sua existência como uma pequena capela, quando a Rua dos Andradas ainda era literalmente a Rua da Praia, no Centro Histórico. A estrutura, como é hoje conhecida, começou a ser construída em fevereiro de 1807. Contudo, só foi finalizada totalmente, e após inúmeros percalços, em 1904. Entre os incontáveis acontecimentos que retardaram sua conclusão está a Revolução Farroupilha (1825-1935), que paralisou as obras até 1857, mas sem fechar a igreja. Foi tombada, no ano de 1938, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, em junho de 2022, recebeu o título de Basílica de Nossa Senhora das Dores. Os escravizados foram os responsáveis por erguer a igreja, que teve a capela-mor, sua primeira fase, concluída em 1813, com recursos de doações da comunidade. Uma das formas que os senhores de escravos contribuíam para a edificação era emprestar seus cativos para o trabalho árduo e, assim, ficar com a consciência tranquila e a certeza de assegurar “um lugar no céu”. Por conta de ter demorado quase cem anos para ficar pronta, existe uma lenda que explicaria tal demora. Diz-se que, durante a construção, desapareceram tijolos e materiais de construção e a culpa foi atribuída ao escravizado Josino, que havia sido emprestado por Domingos José Lopes. Outra versão dessa lenda diz que Josino teria furtado uma das pedras preciosas que adornavam a imagem de Nossa Senhora, versão essa encontrada no livro Lendas Gaúchas, de Pedro Haase Filho. Já a versão que envolve material de construção é de Walter Spalding e encontra-se no livro Pequena História de Porto Alegre, de 1967. Já o historiador Sérgio da Costa Franco refere que, em sua pesquisa, o escravo que foi enforcado chamava-se Manoel e pertencia a Fermino Pereira Soares, cunhado de Domingos, José Lopes, e sua execução aconteceu em 9 de novembro de 1854 (FRANCO, 2006, p. 137) . Também, há menção de que grande parte do material doado por famílias abastadas era recolhido de volta, depois de demonstrada sua benevolência aos olhos da sociedade e dos religiosos, o que explicaria a demora da construção e o sumiço dos objetos. Ainda assim, a acusação do furto recaiu sobre o escravizado, que foi condenado à morte por enforcamento, sentença proferida por Domingos Lopes. A forca e o pelourinho, lugares públicos de uma povoação onde se afixavam os papéis públicos e eram punidos e expostos escravizados ao escárnio social, localizavam-se nas proximidades da igreja. Antes de ser executado, Josino pediu ajuda de Deus, alegou sua inocência e rogou uma praga, dizendo que, pela injustiça ali cometida, o seu senhor jamais veria o término da construção das torres da igreja, o que efetivamente aconteceu, pois Domingos José Lopes faleceu antes da conclusão da obra. O pelourinho representava simbolicamente a autonomia municipal e, em geral, era feito de madeira, com uma argola na ponta, transformando-se, ao longo do tempo, em um símbolo da violência da escravidão no país. Aqui, no estado, diz-se que se encontra um dos raros pelourinhos nacionais que resistiram ao tempo; seria o da cidade de Rio Grande. Na cidade de Porto Alegre, supõe-se ter existido mais de um, sendo que há registro de que, em 1782, a Câmara Municipal pediu o “padrão da cidade do Rio de Janeiro”, e, em 1810, o pelourinho em frente à igreja foi construído. Estima-se que, entre 1839 e 1865, não existissem mais pelourinhos na cidade. O que se localizava defronte à Basílica de Nossa Senhora das Dores, atualmente Av. Padre Thomé, foi confirmado documentalmente. Diz-se que a “praga” rogada pelo escravizado contribuiu muito para a demolição desse pelourinho. Referências FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2006. IGREJA Nossa Senhora das Dores. Projeto Viva o centro. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, [200?]. Disponível em: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/vivaocentro/default.php?p_secao=61. Acesso em: 6 dez. 2022. PELOURINHO: cidade de Porto Alegre. In: Blog Porto Alegre Antigo, o maior presente: dos Antepassados ao Século XXI – A maior história de Porto Alegre em cronológica. Porto Alegre, 22 mar. 2017. Disponível em: http://lealevalerosa.blogspot.com/2017/03/pelourinho-em-porto-alegre-pelourinho.html.Acesso em: 6 dez. 2022.

  • Igreja da Nossa Senhora do Rosário (Beco do Rosário/Rua Vig. José Inácio)

    A primeira construção desta igreja ocorreu entre 1817 e 1827, empreendida pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, uma confraria de negros livres e escravizados. Foi edificada na então Rua da Bandeira, a atual rua Vigário José Inácio, construída durante as horas vagas dos trabalhadores negros, sob a orientação do tesoureiro da Irmandade, Francisco José Furtado, cujo apelido era “Chico Combuta”, tendo recebido a imagem de sua padroeira em 1827. Apesar de contar com poucos recursos, a igreja chamava atenção pelos seus doze metros de altura e duas torres quadrangulares. Seu interior continha, além do altar-mor, outros quatro altares laterais, que abrigavam dezessete imagens, algumas valiosas, vindas de Portugal. Alegando que a igreja não comportava mais a quantidade de fiéis e ameaçava desabar, a Mitra Arquidiocesana a demoliu e em seu lugar construiu outra com estrutura pesada, pouco original e sem uma identidade com a arquitetura local. A Irmandade do Rosário de Porto Alegre foi criada em 1786 e manteve o caráter aberto a todos os grupos étnicos. Embora a igreja católica tivesse como objetivo domesticar a população africana e seus descendentes, legitimando a escravidão, as irmandades foram importantes, proporcionando uma relativa autonomia para a prática religiosa, favorecendo a integração e a socialização entre escravizados e libertos. A presença de brancos nas irmandades onde a maioria era negra levou a uma vivência diferenciada da relação de subordinação existente entre cativos e senhores. Nas reuniões de decisão, reuniões da Mesa, poderiam estar presentes, como mesários, um escravizado e o seu senhor, decidindo sobre assuntos comuns em igualdade, materializando uma prática de resistência contra a escravidão. Além da sociabilidade e auxílio mútuo que a Irmandade permitia, a convivência entre os cultos africanos e portugueses foi fundamental para a preservação de elementos da religiosidade africana, que mesclados com as bases do catolicismo, foram ressignificados e adaptados para a realidade daquele período histórico. Outros atos que são vistos como resistência foram o dever de dar um funeral aos congregados, o amparo aos familiares dos irmãos pobres, a compra de alforria, servindo a própria Irmandade como modelo para outras associações negras de auxílio mútuo, mas sem o caráter religioso das irmandades. O Beco do Rosário localizava-se onde hoje é a avenida Otávio Rocha e recebeu esta denominação após a construção da Igreja da Nossa Senhora do Rosário. Segundo pesquisadores, antes dessa construção, havia uma placa com os dizeres “24 de maio” que o identificava e, o Beco do Rosário, referia-se apenas a um segmento dessa travessa, que ficava mais próximo à igreja. Ali habitou um morador ilustre no sobrado de n.º 21, o poeta e dramaturgo Qorpo Santo, que escreveu a antológica peça “Hoje sou um, e amanhã outro”, estreada na data de 15 de maio de 1866. Para melhor compreender, o conceito de beco relaciona-se com uma rua secundária no traçado urbano hierarquizado e tipicamente ocupado por parcelas mais pobres da população. Pesquisas acadêmicas apontam que parte significativa dos habitantes dos becos eram trabalhadores pobres e, em grande parte, nascidos ou com antepassados no continente africano. Como forma de segregação, havia a desqualificação dos negros como trabalhadores independentes, o que contribuía para a ausência de políticas de reinserção destas pessoas, acarretando sua exclusão do exercício integral da cidadania, incluindo o direito de acesso à cidade. A rua Vigário José Inácio recebeu esta denominação em 1977. Inicialmente, chamava-se Rua do Bandeira e, em 1816, com a construção da igreja, passou a ser conhecida como rua do Rosário, mas apenas na década de 1830 o nome veio a se fixar. A partir disso, os becos tornam-se locais de interação social estigmatizados pela moral das classes dominantes, tendo quase sempre uma conotação pejorativa e considerados como espaços urbanos subalternos. Assim, a modernização da cidade passava pela destruição e higienização desses lugares, especialmente aqueles próximos a locais de prestígio. O Beco do Rosário foi destruído em 1926, na gestão do Intendente Otávio Rocha, dando origem a uma avenida mais larga e expulsando seus habitantes daquele lugar, condenado por sua sociabilidade e por ser remanescente insalubre da cidade colonial. Referências ANDREIS, Suélen. O brilho da festa não cessa a dor: experiências de resistência negra na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Porto Alegre (1827-1861). 2015. (Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) – Universidade Federal do Rio Grane do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/132357. Acesso em: 9 dez. 2022. KOEHLER, Ana Luiza Goulart. Retraçando os becos de Porto Alegre: visualizando a cidade invisível. 2015. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/139940. Acesso em: 9 dez. 2022. FRANCO, Sergio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2006.

  • Colônia Africana

    Figura 1: Mapa da Colônia Africana, Porto Alegre/RS – 1888 Fonte: Elaboração de Daniele Machado Vieira sobre Mapa de Porto Alegre/RS, 1888 (IHGRGS, 2005) Figura 2: Colônia Africana, Porto Alegre/RS – início Séc. XX Fonte: Acervo Biblioteca Digital Luso Brasileira A Colônia Africana foi um arraial caracterizado pela grande presença de famílias negras, existente na cidade de Porto Alegre por, no mínimo, cinco décadas: de meados de 1880 até, pelo menos, os anos 1940/1950. Localizada no entorno da área central, na região que hoje corresponde ao bairro Rio Branco, a Colônia Africana tem sua ocupação inicial relacionada a negros libertos que por ali se estabeleceram no período próximo à Abolição da Escravidão (1888). Seu Jayme Moreira da Silva (1916-2014), morador da região durante toda a vida, relata que “a Colônia Africana era povoada por escravos libertos e pelos seus descendentes. Filhos, netos e bisnetos e assim por diante. Mais alemães e italianos que ali se estabeleceram” (2005, p. 19). A hipótese de ocupação inicial por negros libertos é fortalecida pelo fato de que em 1884 abolicionistas comemorarem a emancipação de 134 escravizados no 3º Distrito, região da cidade na qual vai se localizar a Colônia Africana (ROSA, 2019, p. 150). Relatos apontam que negros libertos teriam se instalado nas bordas dos casarões da Avenida Independência e chácaras existentes nas imediações do atual bairro Rio Branco. Nas décadas de 1910/1920 começam a alojar-se na área imigrantes europeus de diversas nacionalidades: alemães, italianos, espanhóis, portugueses, judeus, russos, austríacos (ROSA, 2019). Em 1888, simbolicamente o ano da Abolição da Escravidão, a área da Colônia Africana aparece pela primeira vez em um mapa da cidade, já com cinco ruas traçadas. Um dos registros mais antigos que se tem da área – com esta denominação – é um anúncio de 29 de janeiro de 1894, no qual são oferecidos para venda terrenos “bem localizados” em diversas áreas da cidade: “[...] Tem a venda terrenos bem localizados, sito as ruas Independência, Silveira Martins, Santo Antônio, Campo do Bom Fim, Garibaldi, Venezianos, Concórdia e na Colônia Africana às ruas Ramiro Barcelos, Castro Alves e Venâncio Ayres” [atual Rua Vasco da Gama] (A FEDERAÇÃO, p. 3, grifo meu). Esse anúncio é um marcador espacial e temporal da Colônia Africana, pois além de apontar algumas das ruas que a compunham, também confirma que na década de 1890 a região já era conhecida por esse nome. Embora não tenha sido oficialmente reconhecida como uma área da cidade, são feitas menções à Colônia Africana na condição de arraial (o equivalente a um bairro) em pelo menos dois documentos do poder público municipal nos anos de 1896 e 1898, referindo, respectivamente, à correção de ruas com nome em duplicidade e à taxação de impostos na zona suburbana (KERSTING, 1998, p. 105). No início do século XX, a Colônia Africana se expandiu. Nos mapas de 1906 e 1916 ela já aparece com muitas outras ruas traçadas. De acordo com as fontes e os antigos moradores, o arraial iniciaria na Rua Ramiro Barcelos estendendo-se até os altos do Morro do IPA, chegando a atingir a Av. Maria (atual Av. Cel. Lucas de Oliveira) no sentido oeste-leste. No sentido norte-sul, da Rua Castro Alves até a Av. Protásio Alves, tendo como principais transversais a Rua Esperança (atual Rua Miguel Tostes) e a Rua Mariante, que dividia a Colônia Africana em uma parte baixa, a oeste, e uma parte alta a leste. Ao longo de algumas décadas, até ao menos a década de 1920, a área da Colônia Africana era o limite de uma parte da cidade, com suas ruas acabando em uma ampla área de vegetação (indicada por arbustos nos mapas de 1888 e 1906) ou tendo como continuidade um grande espaço em branco, indicando um vazio urbano, como no Mapa de 1916. Quanto à denominação, acredita-se que o termo “Colônia” esteja relacionado ao seu contexto inicial de área de características semirrurais, com quintais para criação de animais (cabras, galinhas, etc) e pequenas hortas (ROSA, 2019, p. 148-149). Já o adjetivo “Africana", sem dúvida faz menção aos moradores do lugar, africanos e seus descendentes, como os constantes nos Livros de Registros da Santa Casa no final do século XIX levantados por Kersting (1998, p. 211). Nessa perspectiva, o termo “Colônia Africana” condiz com a ideia de uma região, inicialmente rural, habitada por negros (ROSA, 2019, p. 149). A nomeação da área como decorrente da predominância do grupo racial negro é também apontada pelo cronista Sanhudo, que se refere à área como “região que, mais habitada por pretos, foi ficando com o pitoresco e significativo nome de Colônia Africana” (1975, p. 113). Embora o arraial não tenha sido habitado exclusivamente por negros, até a primeira década do século XX esses eram os moradores majoritários, tornando-se o lugar uma extensão dos seus habitantes, inclusive na denominação daquela região da cidade. Em 1913, a área passa a ser oficialmente denominada de bairro Rio Branco em homenagem ao Barão do Rio Branco. Contudo, parece que a nova denominação demora a emplacar, pois em um relatório da Intendência Municipal de 1918 a área é mencionada como “bairro Rio Branco (antiga Colônia Africana)” (FRANCO, 2006, p. 114). Duas décadas após, em 1940, notícias da imprensa sobre o carnaval referem-se à festa na Colônia Africana, indicando a continuidade da nomenclatura e deste antigo território negro. Narrando os cortejos do pré-carnaval, uma reportagem do jornal Correio do Povo, de 27 de janeiro de 1940, vai se referir aos “morenos” que “desceram os morros, desembocaram da Colônia Africana”. Outra notícia na Revista do Globo, em 17 de fevereiro de 1940, menciona a Colônia Africana, descrevendo um festejo no Salão do Ruy (antigo Salão Modelo), qualificando-o como “a sociedade de pretos da Rua Esperança”, reafirmando a existência de uma comunidade negra no local ainda nessa época. Quando se fala em memórias da Colônia Africana, a Rua Esperança (atual Rua Miguel Tostes) é constantemente referida. Foi nessa rua que em 1942 nasceu a Profª Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, referência nacional em educação para as relações étnico-raciais (ERER), cuja família tem residência desde o raiar do século XX. Por ali também circulavam os blocos de carnaval da área: Os Fazendeiros, Os Turunas e Os Prediletos, com os dois últimos revezando-se nos primeiros lugares dos concursos. Quando chegava a primavera, iniciavam os preparativos para o carnaval e, nas palavras de Seu Jayme Moreira da Silva, “da primavera à quaresma, a Colônia Africana era só festa”. Horacina Corrêa, grande intérprete do Bloco os Turunas, tinha sua voz ouvida de longe, levantando os moradores da Rua Esperança da cama para vê-la passar. Ao descrever os festejos católicos da área, seu Jayme Silva (2005, p. 53) relata que a participação das famílias negras era realizada conforme o “ritual africano”. Ocorridas no Morro da Piedade (na subida da Rua Cabral), essas celebrações ao “ritual africano” eram compostas por piqueniques, música, comidas típicas, dança, desfiles e mães de santo. Mãe Chininha, mãe de santo que residia nas imediações, abria as solenidades, pedindo muito amor, respeito, cura e paz. O antigo morador também faz menção à existência de diversas casas de batuque na região, relatando que mesmo os negros adeptos do catolicismo não deixavam de frequentar “a religião tradicional africana, de origem de seus avós [...] cultuada em toda a Colônia Africana” (2005, p. 53). Sobre o fim da Colônia Africana, sabe-se que com a valorização do espaço, a área foi se transformando. Aos poucos as famílias negras foram migrando e o local deixando de ser caracteristicamente negro. Referências A FEDERAÇÃO. Porto Alegre. n. 24, p. 3. 29 jan. 1894. Acervo da Hemeroteca Nacional. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=388653&pagfis=1. Acesso em: 5 nov. 2020. CORREIO DO POVO. Porto Alegre, 27 jan. 1940. FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006. KERSTING, Eduardo Henrique de Oliveira. Negros e a modernidade urbana em Porto Alegre: a Colônia Africana (1890 – 1920). 1998. 221 f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998. O CARNAVAL em todos os recantos. Revista do Globo, Porto Alegre, n. 269, p. 45, 17 fev. 1940. ROSA, Marcus Vinicius de Freitas. Além da invisibilidade: história social do racismo em Porto Alegre durante o pós-abolição. Porto Alegre: EST Edições, 2019. SANHUDO, Ary Veiga. Porto Alegre: crônicas da minha cidade. Porto Alegre: Editora Movimento: Instituto Estadual do Livro, 1975. 2 v. SILVA, Jayme Moreira da. Colônia Africana. Porto Alegre: [s. n.], 2005. VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021. Disponível em: https://anpur.org.br/territorios-negros-em-porto-alegre-rs-1800-1970. Acesso em: 14 dez. 2022.

  • Bar Naval Chopp

    Consta que o registro do Bar Naval Chopp foi aberto por holandeses, em 11 de maio de 1907, mas que foi fundado no ano anterior. Outra versão diz que o italiano Ângelo Crivellara foi seu fundador e a foto dele no bar reforça essa hipótese. Situa-se, desde então, no térreo do Mercado Público de Porto Alegre e, inicialmente, foi ponto de encontro de imigrantes alemães, sendo famoso por seu chopp e pela culinária luso-brasileira. Sobreviveu a duas guerras mundiais, à enchente de 1941 e aos incêndios do Mercado. Em 1953, foi assumido pelo português Antônio Lopez Branco e, a partir de 1961, por João Fernandes da Costa, também português. Com a construção do Cais do Porto, em 1920, o Naval constituiu-se em um ponto de encontro dos marítimos e estivadores, que eram, em sua grande maioria, negros. Mas não só eles, pois o Mercado era um indicador informal de empregos de baixa remuneração, atraindo inúmeros trabalhadores negros que também finalizavam o dia socializando no boteco. Segundo um dos atuais proprietários, foi o primeiro bar da cidade a receber negros e brancos no mesmo ambiente. O lugar foi referência para os boêmios da cidade e, segundo conta-se, recebeu frequentadores ilustres internacionais, como Carlos Gardel e Carmen Miranda, e estrelas locais da envergadura de Lupicínio Rodrigues e Elis Regina, além de políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart e Glênio Peres. Também foi referencial de lazer, considerado marco importante para os negros, uma vez que foram perdendo seus espaços no centro da cidade, fazendo dali um território simbólico, em conjunto com o próprio Mercado Público, sendo o local de encontro do movimento negro e marcado pela participação política de seus frequentadores. Depois da restauração do Mercado Público (1990-1997), a maioria dos bares e as pequenas lojas fecharam ou perderam suas características principais. O Bar Naval Chopp resistiu e, hoje, chama-se Restaurante Naval, mudança feita nos anos 2000. Na atualidade, tem outro público frequentador. Referências BURKHARDT, Fabiano. Um bar sem preconceito. Jornal Laboratório Três x Quatro. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. Porto Alegre, Agosto, 1999, p.3. Disponível em: /https://cedap.ufrgs.br/xmlui/bitstream/handle/20.500.11959/74/OCR.pdf?sequence=1. Acesso em: 31 maio 2023. JORDANI, Airton. Violento Mocotó no Naval. Blog Arte na mesa.com. Porto Alegre, 09 jun. 2008. Disponível em: http://artenamesa.blogspot.com/2008/06/violento-mocot-no-naval.html. Acesso em: 31 maio 2023. IGLESIAS, Simone. Bar Naval, 100, abrigou de Lupicínio a Getúlio. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 01 nov. 2007. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx0111200727.htm. Acesso em: 31 maio 2023. XAVIER, Amanda. Tradição no prato: conheça os restaurantes mais antigos de Porto Alegre. Caderno Destemperados, Jornal Zero Hora. Porto Alegre. 23 ago 2021. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/destemperados/experiencias/noticia/2019/07/conheca-os-restaurantes-mais-antigos-de-porto-alegre-ckbkl6k260006eisle4bxv156.html. Acesso em: 31 maio 2023.

  • Luanda Bar

    O Luanda Bar foi tido como um reduto da boêmia e de conversas acaloradas sobre o movimento negro de Porto Alegre. A história do bar começou nos anos 1960, fundado pelo artista plástico e pai de santo João Altair, que homenageou o continente africano, batizando o lugar com o nome da capital de Angola, além de ornamentar o lugar com máscaras e pinturas de guerreiros africanos. Depois de vários proprietários, em 1971, o bar passou para Tidi, apelido pelo qual Aristides da Silva e o Luanda Bar (o Bar do Tidi) passaram a ser conhecidos. Do início dos anos 1970, até o final da década de 1980, o lugar também era muito procurado, especialmente nas madrugadas, pelo famoso “Sopão do Tidi”. A iguaria era composta por três ingredientes básicos: água, galinha e massa e, junto com uma pimenta vermelha forte preparada em um garrafão, foi, por quase 17 anos, o destaque do cardápio. A ideia da sopa veio por acaso, em uma noite fria, em que os clientes pediam cachaça para espantar o frio. O caldo era preparado à vista de todos e, nos primórdios, servido em copos, para depois ser servido em pratos nas mesas e no balcão. O bar aceitava os bêbados, desde que não fossem chatos e respeitassem as normas do espaço; caso contrário, eram expulsos irremediavelmente. O bar era frequentado por jornalistas, músicos, políticos e outras personalidades da noite porto-alegrense que chegavam para finalizar a noitada com o sopão. Parte do sucesso e popularidade do bar deve-se ao horário de funcionamento: abria por volta das 21h e só fechava de manhã. Entre os ilustres frequentadores, o Luanda recebeu Lupicínio Rodrigues, o jornalista Paulo Sant’Ana, Glênio Peres, Jamelão, Jorginho do Trompete (Jorge Alberto de Paula), entre outros. O Luanda Bar, minúsculo, porta e janela, era localizado na Rua José do Patrocínio, n. 889, quase esquina da Praça Garibaldi, e possuía três ou quatro mesas. Bastante iluminado e sem música ambiente ou apresentações musicais, funcionava a semana inteira, inclusive nos feriados. Junto com a sopa, a fama do bar veio da figura folclórica e amável de Tidi, descrito como grande e forte, e que se vestia com avental, gravata e um boné branco para receber os clientes. O bar fechou em janeiro de 1988, quando Tidi ficou doente e não teve um sucessor para seguir sendo a alma do lugar. Referências VARGAS, Bruna. Mais famosa que a do Van Gogh: a história da sopa de três ingredientes que curava toda ressaca na Cidade Baixa. Memória afetiva da capital. In: GZH Porto Alegre. 8 dez. 2020. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2020/12/mais-famosa-que-a-do-van-gogh-a-historia-da-sopa-de-tres-ingredientes-que-curava-toda-ressaca-na-cidade-baixa-ckifdeq6y00d5019w7o5rja3a.html. Acesso em: 29 nov. 2022. SANTOS, Irene (org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2005.

  • Bacia do Mont'Serrat

    Figura 1: Mapa da Bacia do Mont’Serrat, Porto Alegre/RS – 1916 Fonte: Elaboração de Daniele Machado Vieira sobre Mapa de Porto Alegre/RS, 1916 (IHGRGS, 2005) Até meados do século XX – e talvez até as décadas de 1980/90 – a área do atual bairro Mont'Serrat era um antigo território negro conhecido como Bacia do Mont'Serrat. Seus primeiros registros datam da primeira década do século XX. Conforme o historiador Sérgio Franco, em 1913 eram anunciados terrenos para venda na área (2006, p. 279). Sanhudo (1975), antigo cronista da cidade, narra a existência de moradores na área antes de 1910, considerado o início oficial do bairro com a construção da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora. Com olhar estigmatizado e depreciativo, ele relata que “antes disso já havia moradores aí nesses valões da antiga rua Álvaro Chaves, hoje Arthur Rocha” (SANHUDO, 1975, p. 111), apontando a Rua Arthur Rocha como a primeira via ocupada. É simbólico que este antigo território negro, na época ocupado majoritariamente por famílias negras, tenha tido como nome do seu primeiro logradouro uma personalidade negra da segunda metade do século XIX. Arthur Rodrigues da Rocha (1859-1888) era um dramaturgo negro, rio-gradino (SANTOS, 2009, p. 56), que na virada do século XIX-XX tinha suas peças encenadas nos festejos da Sociedade Floresta Aurora. Em 1916 foi quando a área da Bacia do Mont’Serrat apareceu pela primeira vez em um mapa, tendo como limites a Rua Arthur Rocha a leste, a Rua Nova York (atual Av. Cel. Lucas de Oliveira) a oeste, a Estrada da Pedreira (hoje a Av. Plínio Brasil Milano) a norte e a Rua Anita Garibaldi ao sul. Esse quadrilátero engloba uma parte considerável da área que, posteriormente, será considerada a Bacia do Mont’Serrat, a qual estendia-se da Av. Plínio Brasil Milano até Rua Pedro Ivo (no sentido norte-sul) e da Rua Pedro Chaves Barcelos até a Av. Mariland (na direção leste-oeste). Todas essas ruas podem ser consideradas como “bordas” da Bacia por estarem em um plano elevado em relação a sua área interna. O Mapa de 1916 mostra que nessa época a área do Mont’Serrat era o limite desta parte da cidade, havendo um amplo espaço em branco (a princípio não urbanizado) na face sul e leste. Na área em branco ao sul, posteriormente irão se localizar os bairros Bela Vista e Petrópolis. O cronista Sanhudo (1975) narra a marcante presença negra na região, conferindo, contudo, uma conotação desqualificadora ao grupo, descrevendo os moradores como “despreocupados” e “estirados em barrancos”, mencionando-os como “filhos de Cam” (em uma leitura bíblica, aqueles que deram origem ao continente africano). Em contraponto às descrições depreciativas estão as narrativas dos moradores e frequentadores do bairro, como a de Dona Shirley Machado, neta e filha de lavadeiras, ainda residente na área. Os antigos moradores relatam a existência de diversas bicas d’água espalhadas pelas ruas do bairro. Próximo às bicas, acumulavam-se as tinas de lavar roupas, nas quais as mulheres exerciam o ofício, passado de geração em geração. D. Shirley relembra o ofício das mulheres de sua família, narrando a existência de uma bica e diversas tinas de lavar roupa na Rua Fabrício Pilar (SANTOS, 2010, p. 110). Ela conta que havia também tias costureiras, cozinheiras, especialistas em doces, destacando, contudo, que a mãe não a ensinou o ofício de lavadeira, pois quis que estudasse, rompendo o ciclo de trabalho ligado às atividades domésticas. Repleta de casas de batuque, a Bacia do Mont'Serrat era considerada lugar de batuqueiro forte, conforme as narrativas colhidas por Pólvora (1996, p. 165). Uma das entrevistadas da fotógrafa Irene Santos revela a existência de diversos terreiros em uma mesma rua: “Na Rua Comendador Rheingantz havia sete casas de religião, de orixás fortes. Na frente da casa dos meus pais morava o Pai Joãozinho do Bará, muito conhecido na cidade” (SANTOS, 2010, p. 116). Até os anos 1980/90 muitas outras casas religiosas povoavam a paisagem do bairro, com gerações de batuqueiros sucedendo-se ali, como Mãe Laudelina do Bará pertencente à terceira geração de uma família de santo (PÓLVORA, 1996, p. 165). A forte religiosidade negra na área é um dos motivos do termo Bacia na denominação do bairro. Para os adeptos da religião de matriz africana, “bacia” refere-se ao pertencimento dos terreiros do bairro a uma mesma matriz/linha religiosa (RECH, 2012, p. 31), conformando uma origem espiritual comum, uma mesma procedência. Crê-se, ainda, que a forma côncava do relevo, formado por uma parte baixa ao centro ladeado por partes altas, apresentando o formato semelhante ao de uma bacia (objeto), teria levado a área a ser popularmente batizada de Bacia do Mont'Serrat. As memórias sobre o bairro também remetem aos blocos de carnaval, como o “Aí vem a Marinha” e “Não vai pra ti”, além de grandes bailes promovidos por Júlio Ferreira, Seu Pretinho. Os antigos moradores orgulham-se dos piqueniques dominicais, momentos de sociabilidade das famílias negras, assim como de terem visto crescer um dos grandes jogadores do Grêmio, o futebolista Roger Machado, nascido e criado no bairro. O território negro Bacia do Mont’Serrat ao qual nos referimos já não existe mais, devido, em boa medida, à grande transformação social e econômica do bairro nas últimas décadas. Mas ainda há uma presença negra que resiste à vertiginosa verticalização e elitização do bairro. Referências FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006. PÓLVORA, Jacqueline Britto. Na encruzilhada: impressões da socialidade batuqueira no meio urbano de Porto Alegre/RS. In: LEITE, Ilka Boaventura (org.). Negros no Sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996. p. 159-175. RECH, Tiago Bassani. Casas de religião de matriz africana em Porto Alegre: territorialidades étnicas e/ou culturais a partir da antiga Colônia Africana. 2012. 125 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. SANHUDO, Ary Veiga. Porto Alegre: crônicas da minha cidade. Porto Alegre: Editora Movimento: Instituto Estadual do Livro, 1975. 2 v. SANTOS, Irene (org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2005. SANTOS, Irene (coord.) et al. Colonos e Quilombolas: memória fotográfica das colônias africanas de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2010. SANTOS, Isabel Silveira dos. Abram-se as cortinas: Representações étnico-raciais e pedagogias do palco no teatro de Arthur Rocha. 2009. 144 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Luterana do Brasil, Canoas, 2009. Disponível em: https://servicos.ulbra.br/BIBLIO/PPGEDUM103.pdf. Acesso em: 27 mar. 2017. VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021. Disponível em: https://anpur.org.br/territorios-negros-em-porto-alegre-rs-1800-1970. Acesso em: 25 jan. 2023.

  • Praça da Alfândega (Largo da Quitanda)

    O espaço da Praça da Alfândega é oficialmente reconhecido como ponto inicial de Porto Alegre. Sua utilização começa em 1772, quando a cidade ainda era nomeada como Porto São Francisco dos Casais. Foi neste local que se estabeleceram os primeiros passos da cidade, contando com forte circulação de pessoas negras, que ali desempenhavam diferentes ofícios. Uma das formas de uso deste espaço veio a consolidar sua nomeação enquanto Largo da Quitanda, o primeiro mercado de Porto Alegre, marcado pela forte presença do trabalho de mulheres negras, que passaram a ser chamadas de quitandeiras, ali desenvolviam o comércio de uma variada gama de produtos, sobretudo alimentícios, e foram responsáveis pela construção da cidade em seus aspectos econômicos e sociais. A consolidação do Largo da Quitanda enquanto principal espaço de comércio da cidade, expressa a continuidade da tradição da Kitanda, palavra bantu, que remete às práticas de comércio ao ar livre, em formato de tabuleiro, presente na Costa da Mina, região litorânea de onde vieram para o Brasil grandes grupos africanos no contexto diaspórico. Em território africano, o comércio de tabuleiro apresentava especialização por parte das comerciantes. Já no contexto brasileiro, as quitandeiras são reconhecidas pela variada gama de produtos oferecidos. Por meio desta forma de organização, as quitandeiras possibilitaram para a comunidade negra a construção de laços associativos oriundos da troca de experiências comuns entre trabalhadores, tanto livres quanto escravizados. Isso fez com que negros e negras passassem a enxergar o Largo da Quitanda enquanto um local de referência socioespacial e de pertencimento junto à cidade. Era neste espaço que se abastecia o comércio de porta, muitas vezes realizado por escravos de ganho. Também neste local operava o porto fluvial da cidade, que tinha na sua estrutura muitos sujeitos negros desenvolvendo funções básicas para o bom funcionamento e crescimento da economia da cidade, como movimentações de produtos para dentro e fora das embarcações que ancoravam ali. Ainda na primeira metade do século XIX, a população negra passou a ser retirada do local por meio de articulações da classe dominante, que visavam estruturar mudanças materiais e simbólicas na cidade. Com o intuito de invisibilizar a presença negra, o Estado passa a organizar estratégias políticas de gentrificação, que geram tensionamentos nas relações raciais e afetam diretamente as dinâmicas que possibilitaram o fortalecimento da comunidade negra neste espaço. E é assim que na década de 1820, em razão do aumento do prédio da alfândega, o comércio das quitandas é direcionado para a Praça Paraíso, atual praça XV de Novembro, e apenas em meados da década de 1840 é construído um espaço dedicado a abrigar o comércio. Na década de 1860, com a criação do Mercado Público, as quitandas perdem espaço no centro da cidade e se espalham para outros locais. O estado do Rio Grande do Sul foi fortemente influenciado pela linha política do positivismo e, historicamente, buscou fortalecer a ideia de que o desenvolvimento econômico, social e político do estado é obra exclusiva de imigrantes europeus, sobretudo italianos e alemães. Os prédios da Delegacia Fiscal e do Correios e Telégrafos, atualmente ocupados respectivamente pelas instituições Museu de Arte do Rio Grande do Sul e Memorial do Rio Grande do Sul, foram construídos na segunda década do século XX, entre os anos de 1910-1914 e expressam em sua arquitetura o projeto positivista de embranquecimento material e imaterial da cidade de Porto Alegre. Com o fortalecimento das políticas de imigração europeia, visando uma mudança nas relações de trabalho, a praça passa a ser visada enquanto cartão postal da cidade, um convite aos imigrantes europeus. As mudanças, que passaram a ocorrer no local, sobretudo na primeira metade do século XX, buscavam paralelamente uma alteração da paisagem e das dinâmicas sociais. Houve e ainda há resistência a estas medidas de gentrificação e apagamento da memória negra, por meio de articulações centradas na construção de narrativas que apontem para além da invisibilidade imposta pelo protagonismo de nosso povo na história desta cidade e do estado como um todo. Neste sentido, em 2011 foi inaugurada na Praça da Alfândega a obra Pegada Africana, que faz parte do “Museu de percurso do Negro” e foi incorporada ao projeto “Territórios Negros: Afro-brasileiros em Porto Alegre”. Estas iniciativas são frutos da organização política do movimento social negro, que desempenha papel fundamental no processo que leva a ativação da memória da praça enquanto um território também marcado pela presença do povo negro porto-alegrense. Referências ROSA, Marcus Vinicius. Além da invisibilidade: história social do racismo em Porto Alegre durante o pós-abolição (1884- 1918). Porto Alegre: EST Edições, 2019. SOARES, Karitha Regina. Da forca ao tambor: o museu de percurso como reconhecimento histórico da presença do negro na formação da cidade de Porto Alegre. 2017. Trabalho de conclusão de graduação (Licenciatura em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/170490. Acesso em: 08/05/2023. VIEIRA, Daniele Machado. Territórios negros em Porto Alegre/RS (1800 – 1970): Geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Porto Alegre: UFRGS, 2017.

  • Esquina do Zaire

    A Esquina do Zaire designa uma ressignificação promovida pelos negros e negras para a denominada Esquina Democrática, situada no cruzamento central do espaço urbano de Porto Alegre, entre a Rua dos Andradas (Rua da Praia) e a Avenida Borges de Medeiros, onde os diversos segmentos sociais e culturais promoviam (e eventualmente ainda promovem) encontros por meio da sociabilidade pública, geralmente entre às 18 horas até a meia-noite, de modo fluido e efêmero, sendo estes estudantes, carnavalescos, sambistas, trabalhadores de serviços públicos, comércio e serviços, integrantes dos movimentos funk e hip hop, capoeiristas e negros proveniente das periferias, territórios negros (bairros) dos arredores do Centro e da região metropolitana de Porto Alegre. Este povo negro afluía para a área central da cidade com a ideia de ocupação de esquinas, bares, galerias, shopping centers e ruas do entorno. É esta ocupação que caracteriza a chamada Esquina do Zaire. Os períodos e dias mais intensos ocorrem entre as quintas e sextas-feiras. A denominação Esquina do Zaire é atribuída ao fato de que, em 1974, durante a Copa do Mundo de Futebol, a seleção brasileira disputaria pela primeira vez uma partida oficial com a seleção africana do Zaire, assim estabelecendo um dilema para os negros brasileiros entre torcer para o Brasil ou para o Zaire, selecionado formado exclusivamente por jogadores negros, tendo a maioria ou grande parte optado por torcer para o selecionado zairense. Apesar de terem sidos derrotados por 3 x 0 pela equipe brasileira, entre a comunidade negra ficou consagrado que a então Esquina Democrática passaria a ser denominada de Esquina do Zaire, em alusão, também, à significativa presença de corporeidades negras; às manifestações políticas (com destaque para o Movimento Negro [MNU] e Grupo Palmares) e culturais afro-brasileiras e, sobretudo, pela intensa sociabilidade pública urbana. No meio popular, convencionou-se atribuir a “um Zaire” lugares onde domina a presença negra, também numa alusão ao selecionado daquele país, o que contribuiu para a identificação dos encontros de negros no Centro de Porto Alegre, na Esquina Democrática, como Esquina do Zaire. Referências: ANJOS, José Carlos dos. A reterritorialização do negro no centro de Porto Alegre. In: ORO, Ari Pedro; ANJOS, José Carlos, CUNHA, Mateus. A tradição do Bará do Mercado. Porto Alegre, PMP/SMC/CMC, 2007. BITTENCOURT JUNIOR, Iosvaldyr Carvalho. Porto Alegre: Do Porto dos Casais a um Porto Africano. A Ocupação Negra do Centro de Porto Alegre. Comunicação apresentada na 17ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Florianópolis, 1990. ____________. “Território Negro em Área Urbana”, Comunicação, Reunião Intermediária da Anpocs, Territorialidade, Identidade e Cidadania no Brasil, dias 20 e 21 de setembro de 1990, Florianópolis, 1990. ____________. Mostra Fotográfica “Territórios Negros no Campo e na Cidade”, 17ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), de 08 a 20 de abril de 1990, como atividade complementar, Florianópolis, 1990. ____________. “Os Relógios da Noite: Território e Etnicidade”, Comunicação apresentada no Grupo de Trabalho “Religião, Identidade e Etnicidade”, III ª Reunião Regional Sul da Associação Brasileira de Antropologia, 13 de novembro de 1991, Curitiba, 1991. ____________. Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre. Palestra. Curso de Extensão “Zumbi dos Palmares – 300 Anos (Aspectos Históricos e Antropológicos), Ifch, Pucrs, Porto Alegre, 1994. ____________. A Esquina do Zaire – Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre, In; SEFFNER, Fernando (Org.), Presença Negra no Rio Grande do Sul, Unidade Editorial, Secretaria Municipal da Cultura, Porto Alegre, 1995. ___________. Relógios da Noite: uma antropologia da territorialidade e da identidade negra em Porto Alegre. PPGAS, Ufrgs, dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995. ____________. “Cruzando Territórios Negros”, exposição integrante do projeto“ Projeto Zumbi 300 Anos: o negro ontem e hoje”, Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Nuer. Curadoria Miriam Chagas, 27 de Novembro, Porto Alegre, 1995. ___________. A Esquina do Zaire: Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre. In: LEITE, Ilka Boaventura Leite. Negros no Sul do Brasil – invisibilidade e territorialidade, Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1996. ___________. “Territorialidade Negra Urbana” Seminário: “Negritude, Sociedade e Cidadania em Porto Alegre”, de 25 a 27 de novembro de 2003, Teatro Bruno Kiefer, casa de Cultura Mário Quintana, Uergs, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. ___________. Territórios Negros. In: SANTOS, Irene (Org.), Negro em Preto e Branco – História Fotográfica da População Negra de Porto Alegre, Do Autor/Fumproarte, Porto Alegre, 2005. ___________. Territorialidade Negra Urbana: a evocação da presença, da resistência cultural, política e da memórias dos negros, em Porto Alegre, delimitando espaços sociais contemporâneos. In; POSSAMAI, Zita (Org.) Leituras da Cidade, Editora Evangraf, Ufrgs, Porto Alegre, 2010. SANTOS, Roberto dos. Pedagogias da Negritude e Identidades Negras em Porto Alegre: jeitos de ser negro no Tição e no Folhetim dos Zaire (1978-1988), PPG em Educação, Universidade Luterana do Brasil, dissertação de Mestrado, Canoas, 2007. SOMMER, Michelle Farias. Territorialidade Negra – Herança africana em Porto Alegre: uma abordagem sócio-espacial, Ed. Do Autor/Fumproarte, Porto Alegre, 2011.

  • Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora

    Em 1872, em pleno período de vigência da escravidão no Brasil, um grupo de jovens negros fundou, em Porto Alegre, no de 31 de dezembro, a Sociedade Musical Floresta Aurora, uma entidade que se tornou um dos clubes negros mais longevos do país. Entre estes jovens e primeiros membros estavam José Manoel Antonio e Miguel Archanjo da Cunha. Muitos destes membros fundadores pertenciam à Irmandade do Rosário, como assinala a historiadora Liane Muller. Em seu primeiro estatuto, do ano de 1874, a entidade era caracterizada como bailante e beneficente. Tinha entre seus objetivos a prestação de socorro a seus sócios enfermos, extensivo a suas famílias, bem como a assistência no momento dos enterros e, ainda, a compra de liberdade de seus associados e de seus familiares por meio da junção de pecúlio coletivo. A Sociedade, na década de 1920, formou uma biblioteca e criou mecanismos de instrução de seus membros. Contou, ainda, com uma banda musical chamada Banda da Floresta Aurora. Ocupou vários endereços ao longo de sua trajetória e, segundo relatos de seus membros, sua nomenclatura teria surgido decorrente de sua primeira sede, localizada entre as ruas Floresta (atual rua Cristóvão Colombo) e Aurora (atual rua Barros Cassal). Posteriormente, teve sede nas ruas da Concórdia (atual José do Patrocínio), General Lima e Silva, Curupaiti e Avenida Coronel Marcos. Atualmente se encontra na Estrada Afonso Lourenço Mariante, na Lomba do Pinheiro. Referências MÜLLER, Liane S. As contas do meu rosário são balas de artilharia: irmandade, jornal e associações negras em Porto Alegre (1889-1920). 1999. Dissertação (Mestrado em História) – PUC-RS, Porto Alegre, 1999. PEREIRA, Lúcia Regina Brito. Cultura e afrodescendência: organizações negras e suas estratégias educacionais em Porto Alegre (1872-2002). 2008. 450 f. Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Sociedade Floresta Aurora completa 150 anos como referência à comunidade negra. Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/sociedade-floresta-aurora-completa-150-anos-de-referencia-a-comunidade-negra/

  • Clube Náutico Marcílio Dias

    No dia 02 de julho de 1949, o impresso gaúcho Folha da Tarde estampou em suas páginas um convite aberto e dirigido “aos homens de cor” da cidade de Porto Alegre. Com previsão para os primeiros dias de julho, o encontro anunciado aconteceria no Teatro Anchieta (Avenida Brasil) e objetivava estudar as possibilidades da constituição de um Clube Náutico, inicialmente anunciado como Clube Náutico José do Patrocínio, contudo recebendo a nominação de outro intelectual negro, Marcílio Dias. Destinado à prática do remo e da natação, “esportes que traziam benefícios para os jovens negros,” mas que era lhes era negado o acesso aos clubes brancos da cidade. Desta forma, seria fundado na data de 04 de julho de 1949, o Clube Náutico Marcílio Dias, envolvendo esportistas como João Nunes de Oliveira (um dos proponentes do convite aos homens de cor), advogados, comerciários, funcionários públicos e estudantes que organizaram uma junta para a elaboração dos estatutos e a composição da iniciante diretoria. A então junta governativa provisória traçou os objetivos para o clube. Entre seus principais articuladores estavam: Armando Hipólito dos Santos (advogado), João Nunes de Oliveira (comerciário), Heitor Nunes Fraga (industriário), Paulo Santos (acadêmico), João Batista da Silva (desenhista), Miguel Machado (comerciário), Morelino Caldeira da Silva (funcionário público) e Kleber de Assis (industriário). Posteriormente, alguns destes membros formaram a primeira diretoria da entidade. No ano seguinte, em 12 de junho de 1950, o Clube abre oficialmente “suas portas” no prédio da Av. Praia de Belas, n. 2286. Seus salões foram cenário de inúmeras festas comemorativas compartilhadas especialmente com outros clubes negros, quando foram vivenciados os bailes de carnaval, natal e outros festejos que se tornaram amplamente reconhecidos como grandes acontecimentos da comunidade negra de Porto Alegre. Na década de 1960 foi editado um jornal interno chamado Ébano, e entre seus idealizadores estava Eloy dos Angelos. Teve somente dois números que veiculavam as atividades do clube e de outras associações negras. No início, a sede era um chalé com poucas instalações, porém, em 1957, houve uma maior mobilização dos sócios para a construção de um ginásio, que foi derrubado no ano seguinte em decorrência dos ventos fortes nas margens do Lago Guaíba. Durante a sua trajetória, o clube não teve sede própria, permanecendo ao longo de sua existência no mesmo endereço, no bairro Menino Deus, e próximo aos antigos territórios da Ilhota e do Areal da Baronesa. Suas atividades foram encerradas na década de 1970.

  • Associação Satélite Prontidão (ASP)

    A Associação Satélite Prontidão (ASP) foi originada da fusão de duas sociedades fundadas nas primeiras duas décadas do século XX, a Sociedade Satélite Porto-Alegrense (1902) e a Sociedade Recreativa Beneficente Prontidão (1925). Apesar de a fusão datar de 30 de setembro de 1956, a referência de origem se remete à fundação da Sociedade Satélite Porto-Alegrense, ocorrida em de 20 de abril de 1902. A entidade iniciou suas atividades oficiais em uma sede provisória na Rua Barão de Gravataí n. 645 (alugada), onde esteve instalada a Sociedade Prontidão. Fundada por membros que vivenciaram outras associações negras de Porto Alegre, se caracterizava conforme seu 1.º Estatuto do mês de agosto de 1957, como uma entidade social, familiar, cultural, recreativa e beneficente, tendo como objetivos basilares o desenvolvimento dos laços de amizade entre seus integrantes como também proporcionar-lhes diversões e benefícios bem como a promoção de intercâmbio entre outras entidades. A primeira diretoria, conforme os estatutos do ano de 1957, foi composta por homens negros ligados profissionalmente a segmentos do serviço público e comércio local. Formaram a primeira diretoria: Everaldo Henriques de Castro, Odilon Batista Carvalho, Odilon Batista Andrade, Gaspar Martins, João Costa, Athayde Nascimento Vieira e João Pedro dos Santos. Na década de 1960, a ASP comprou sua sede própria na Av. Aparício Borges n. 288, onde permaneceu por mais de 40 anos promovendo bailes, cursos noturnos e jantares. Nos anos 2000 a associação migrou para a zona norte de Porto Alegre, no bairro Rubem Berta.

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